Este é o segundo artigo da série de conteúdos que o CLP irá publicar até setembro de 2018: o Projeto Brasil. Com ela, temos o objetivo de levantar questionamentos relevantes sobre:
Educação;
Desenvolvimento econômico;
Saúde;
Segurança pública;
Infraestrutura;
Sustentabilidade; e
Competitividade.
Desenvolvimento econômico não se restringe apenas ao crescimento econômico de um país. Também está relacionado a questões qualitativas que são impactadas pela economia, como a redução da pobreza, da desigualdade social, a melhoria da qualidade de vida, das condições de moradia e dos serviços de saúde, educação e transporte, por exemplo.
No âmbito do desenvolvimento econômico, é inegável a melhora que o Brasil apresentou ao longo dos últimos 25 anos. Trilhamos uma rota de abertura comercial, estabilização da inflação e ascensão de milhões de pessoas acima da linha de pobreza.
Por outro lado, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro vem decrescendo vertiginosamente. Segundo dados do Banco Mundial, a queda foi de mais de 9% de 2014 para 2016. Essa contraposição nos remete a um período de estagnação e até mesmo regressão.
Mas o que isso que dizer na prática? O PIB é o cálculo interno de tudo o que é produzido em um país e nos ajuda a avaliar se a economia está crescendo e se o padrão de vida está melhorando. Quando diminui, significa que menos riquezas foram produzidas no país, influenciando negativamente na inflação, nos salários, no desemprego, ou seja, na qualidade de vida da população.
De fato, grande parte dos elementos que estimularam o desenvolvimento econômico do país estão perdendo sua força de impacto. Até então, temos dependido de fatores como:
- Crescimento na população economicamente ativa, que tende a reduzir com a diminuição de nascimentos e o aumento da expectativa de vida, o que caracteriza uma inversão da pirâmide etária do país; e
- Comercialização de recursos cíclicos e naturais, como o petróleo e a agricultura, que têm precificação incerta no cenário mundial pois dependem de fatores externos.
Em seguida, vamos analisar outros dados que nos trazem reflexões sobre a situação do desenvolvimento econômico no Brasil, abordando temas pertinentes para um debate qualificado sobre as mudanças necessárias hoje para a construção de um país mais próspero, inclusivo e sustentável.
Mais de 25% da população brasileira está abaixo da linha de pobreza monetária.¹
64,9% da população brasileira não tem pleno acesso a condições para um vida digna.¹
Esses dois dados nos trazem informações complementares sobre a pobreza no Brasil. Por um lado, analisa-se a renda per capita, conforme determinações do Banco Mundial.
Neste caso, a maior incidência está nas regiões Norte e Nordeste, onde mais de 40% da população está abaixo da linha de pobreza monetária, enquanto a menor está na região Sul, com 12,3%.
Fonte: Um quarto da população vive com menos de R$ 387 por mês. Agência de notícias do IBGE, 2018.
Por outro lado, considera-se a pobreza como uma condição multidimensional, ou seja, que está relacionada à restrição de acesso a pelo menos uma das dimensões a seguir:
- Educação;
- Proteção social;
- Moradia adequada;
- Serviços de saneamento básico; e
- Internet.
Novamente, a análise demonstra altos níveis de desigualdade social e de gênero, sendo que o grupo populacional mais vulnerável é composto por mulheres pretas ou pardas sem cônjuge e com filhos, afetadas em 81,3% dos casos, enquanto o menos vulnerável é composto por homens brancos, afetados em 53,9% dos casos.
Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2016. Adaptação: CLP.
No geral, o que esses dados expõem é a triste realidade de que todas as regiões e grupos populacionais do Brasil enfrentam o desafio de reduzir a desigualdade e melhorar as condições de vida da população. E isso nos traz os seguintes questionamentos:
1. Qual ação priorizar a fim de diminuir a pobreza no Brasil? Por onde cada um dos pré-candidatos propõe começar?
2. Seria possível resolver a questão da pobreza no Brasil apenas com redistribuição de renda? O país consegue proporcionar as condições necessárias para que as pessoas em ascensão se desenvolvam socialmente e economicamente?
3. Que outras medidas podem ser tomadas para garantir que, além de estar acima da linha de pobreza monetária, homens, mulheres e crianças de todos os estados também tenham acesso a uma vida digna?
4. A diminuição na desigualdade de gênero pode tornar o país mais próspero? Como a força de trabalho das mulheres pode contribuir para o desenvolvimento econômico do país?
Atualmente, aproximadamente 23% dos jovens de 15 a 29 anos não estudam nem trabalham .²
O PIB do Brasil pode crescer 4,4% ao ano se aumentarmos a produtividade do país para 2,5%.²
Esses números estão interligados, pois um dos motivos da baixa produtividade brasileira é a subutilização da força de trabalho, especialmente entre os jovens. Fica clara, mais um vez, a importância da melhoria na qualidade da educação para a inclusão do jovem no mercado de trabalho.
Segundo o estudo Visão Brasil 2030, que a McKinsey divulgou em parceria com o CLP em 2014, outros fatores que estão associados a questão da produtividade no Brasil são:
- A baixa taxa de investimentos;
- A falta de integração com cadeias globais de valor, que causa uma competitividade no mercado; e
- O alto custo e a grande dificuldade de fazer negócios, relacionada principalmente à complexa e onerosa carga tributária do país.
É importante ressaltar que o aumento na produtividade não está relacionado ao aumento da carga horária dos trabalhadores, mas sim à utilização mais eficiente de recursos através do uso da tecnologia e da qualificação da força de trabalho, por exemplo.
De posse dessas informações, podemos concluir que um desafio para o crescimento econômico sustentável do Brasil é o aumento da produtividade em todos os setores. Portanto, surgem as seguintes reflexões:
1. Qual a nossa estratégia de investimento e formação de talentos para alocação em setores com alto potencial de crescimento, como o agrícola e o mineral?
2. Que políticas públicas podem ser implementadas para que o sistema educacional converse com as necessidades do mercado de trabalho?
3. Como fomentar o aumento da eficiência da gestão pública e a diminuição dos entraves para a inovação e geração de novos negócios que tornarão o país mais competitivo?
¹ Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira. IBGE, 2017.
² World Bank. 2018. Emprego e crescimento : a agenda da produtividade (Portuguese). Washington, D.C. : World Bank Group.
³ World Bank. 2018. Competências e empregos : uma agenda para a juventude : Síntese de constatações, conclusões e recomendações de políticas (Portuguese). Washington, D.C. : World Bank Group.