Esse conteúdo faz parte do Blog do CLP. Esse é um espaço onde as lideranças formadas pelos cursos do CLP compartilham boas práticas, aprendizados e soluções. Que nesse caso, foram criadas ou otimizadas através da participação no Master em Liderança e Gestão Pública – MLG. O texto da líder MLG, Raphaella Burti, aborda questionamentos sobre a educação pública brasileira. Confira:
A Educação pública na transformação da sociedade
“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.” Paulo Freire
Paulo Freire em um texto sobre educação é clichê; dizer o quão importante educação é, também é clichê; a educação é transformadora – outro clichê! A educação é feita de clichês, ou seja, de coisas óbvias, previsíveis, todos sabem de sua importância e têm noção do que precisa ser melhorado. Por que, então, parece que não evoluímos? Que estamos parados no mesmo lugar, há séculos? Mesmo a maioria dos nossos governantes dizendo que “Educação é prioridade”, vemos milhares de escolas e alunos abandonados?
Sinto desaponta-lo(a), mas esse texto não trará essa resposta, essa solução mágica. Justamente, porque não há mágica, não há solução instantânea na educação. Há, sim, algumas diretrizes que podem funcionar, porém, ainda assim, nada é certeza. A educação é feita de incertezas, não pela conotação negativa, mas pela positiva, de que nada é certo, imutável, ou seja, sempre é passível de mudança. Um mestre uma vez me disse que a profissão de professor é a que exige mais perseverança, pois vive de esperança, muitas vezes não tem a oportunidade de saber se seu trabalho rendeu frutos, se o aluno “deu certo” (no sentido de ter se tornado uma boa pessoa/cidadão, de fazer o que gosta, de ser feliz). Então, a primeira diretriz é essa: educação é complexa, não há apenas uma solução, muito menos a solução ótima.
No dia 15 de outubro vemos as redes sociais ‘rasgando’ elogios aos professores, “a profissão de todas as profissões”, “os mestres da vida”, mas quantos jovens pretendem seguir a profissão? Pouquíssimos, em torno de 2% [1]. São necessárias políticas de valorização dos professores (outro clichê!) e isso nossos governantes também estão cansados de saber, dizer e ouvir. Porém, não podemos nos esquecer da base de formação dos professores: as universidades – públicas e particulares. Essas precisam se atualizar, se modernizar. Cobramos tanto que os professores formem seus alunos com habilidades e competências do século XXI, mas eles são formados da mesma forma desde o século passado.
E o aluno? Em quais momentos sua voz é ouvida? Ela é ouvida?
Enquanto pensarmos em educação sem envolver o aluno, as escolas continuarão não fazendo sentido. A escola deve ser ‘feita’ para, pelo e, principalmente, COM o aluno. Alguns – infelizmente muitos – não os acham capazes de pensar, de decidir, e se sentem no direito de falar por eles. Desta forma, continuaremos a falhar fortemente com muitas gerações. Experimente: convide os alunos para reunião da APM (Associação de Pais e Mestres), do Conselho de Escola, para discutir as políticas de educação, ou para ajudar a tomar qualquer outra decisão na escola, irão se surpreender! E quem acha que os anos iniciais e primeira infância podem ficar de fora, está muito enganado. Consulte-os sobre o sabor do suco, qual a fruta querem no lanche, como se sentem no caminho para a escola, as crianças também são completamente capazes de ter e emitir suas opiniões. Tente, esteja atento aos sinais.
A educação tem jeito, sim!
E, no seu lugar sagrado, a sala de aula, ela acontece, independente de nossas vontades. Mas, pode ser melhor, pode ser mais humana, ela pode ser de fato transformadora, ela pode – e deve – fazer sentido. Só não podemos esquecer que a educação é feita, antes de qualquer coisa, de GENTE. Gente que tem sentimentos, que tem sonhos, que tem opinião, que tem dificuldades, que tem limitações.
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Referências:
[1] – Dados do relatório Políticas Eficientes para Professores, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 2018.
Graduada em Gestão de Políticas de Públicas, pela Universidade de São Paulo (EACH-USP), e pós-graduada em Liderança e Gestão Pública, pelo MLG. Raphaella é ex-aluna da Rede Pública Paulista de Ensino e nunca abandona sua visão da sala de aula. Possui mais de 7 anos de experiência no Setor Público, com atuação nas 2 maiores redes de educação do país: a Estadual e a Municipal de São Paulo. Ainda no Setor Público, atuou na Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de São Paulo, na Unidade de Entrega de Projetos Prioritários, Assessoria Econômica e Gabinete do Secretário; e na Secretaria Municipal de Segurança Urbana, na Assessoria Técnica do Gabinete. Possui experiência, também, no Setor Privado, quando atuou na Somos Educação, onde teve oportunidade de ser transferida para Recife e estruturar as livrarias do Colégio Motivo. Atuou, ainda, na fundação do Partido Novo, onde era a responsável por toda a comunicação (redes sociais, site, fale conosco, newsletter).