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Desafios políticos diante do legislativo

Humberto Dantas - Coordenador do MLG

 

Por Humberto Dantas, coordenador do MLG

Não tem sido muito habilidosa a capacidade de o ministro da Economia, Paulo Guedes, falar sobre política. Existe uma distância entre o que desejam os governos e o que precisa ser ouvido pelos parlamentares. Nos últimos meses Guedes não percebeu isso: falou em dar uma “prensa” no Congresso e logo foi corrigido por Bolsonaro, que reconheceu que seu homem de confiança não tem habilidade parlamentar. Agora em Davos chegou a ser noticiado que a reforma previdenciária atingirá consenso. Isso nunca ocorrerá. Não é próprio da democracia. Guedes reclamou que a imprensa noticia coisas fora de contexto ou que não foram ditas.

Neste dia 01 de fevereiro, o Congresso Nacional tomará posse. E começará efetivamente o governo Bolsonaro. São 513 deputados federais com algumas novidades relevantes: razoável grau de renovação, marinheiros de primeira viagem com discurso extremamente ativo, ascensão expressiva da bancada do PSL, redução aguda de partidos tradicionais como MDB e PSDB, e desaparecimento de grandes bancadas, com as duas maiores passando discretamente de dez pontos percentuais de representatividade. No Senado são 54 eleitos, com taxa baixa de reeleição entre os 32 que buscaram se manter na Casa, e 24 dos 27 eleitos em 2014 mantidos, pois muitos tentaram voos mais ousados e naufragaram. O Senado, definitivamente, representou de forma clara o que existe de distanciamento efetivo entre o cidadão e a política.

Diante de tais realidades o primeiro desafio será eleger as Mesas Diretoras das respectivas casas legislativas. Se o Planalto imaginava que teria facilidade, provavelmente perdeu a aposta. Um Executivo com dificuldades de articulação política terá um parlamento com dois políticos hábeis à luz de nossa cultura – o que pode representar o que existe de mais tradicional, e se afastar bastante do discurso de renovação na forma de fazer política apregoado em campanha. Existe uma chance grande de Rodrigo Maia (DEM-RJ) ser mantido no controle da Câmara e de Renan Calheiros (MDB-AL) conquistar seu quinto mandato no Senado.

A partir disso, o desafio será liderar o bloco de situação para as grandes transformações que o país precisa enfrentar. O líder do governo na Câmara será um major catarinense de primeira viagem. Quem dará às ordens nesse universo tão complexo? Alguns apostam em Rodrigo Maia, outros falam na família de Jair Bolsonaro, representada aqui por seu filho Eduardo (PSL-SP). Há quem fale também em Onyx Lorenzoni (ministro eleito pelo Rio Grande do Sul para mais um mandato parlamentar), mas poucos indicam o major terá poder e habilidade imediatos. Nesse sentido, Maia e Bolsonaro se deixaram fotografar juntos com boas risadas e aparente proximidade. No Senado, o mesmo poderia ocorrer com Renan, que chegou a declarar afagos a Flávio Bolsonaro – deputado estadual eleito senador pelo Rio de Janeiro pelo PSL -, mais um filho do presidente, este acusado de corrupção e claramente incomodado com o que chama de fogo amigo.

Governos anteriores não prometeram mudar suas relações com o Congresso de forma tão escancarada, não tinham bancadas tão frágeis, não ganharam o Planalto em coligações desinfladas e não tinham familiares tão incisivos no Legislativo. Tampouco escolheram líderes frágeis e deixaram de pesar mais nas eleições das mesas diretoras – a exceção foi Dilma Rousseff em seu segundo mandato, que engoliu Eduardo Cunha e foi engolida por ele.    

 

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