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Entenda como liderar em tempos de crise

Liderar em tempos de crise não é tão fluido como gostaríamos, entretanto, não é tão pouco intangível no setor público, como alguns afirmam. Especialmente em tempos de pandemia, trabalho remoto, teletrabalho, home office, nômades digitais e tantas novas terminologias e conceitos que surgiram em uma época tão atípica e inesperada (será?), liderar realmente tornou-se uma arte, um exercício de resiliência, mas totalmente possível se, embasado na observação, na escuta ativa e, na empatia assertiva.

As perguntas que pretendo responder aqui são: como é possível praticar tal estilo de liderança no dia a dia das instituições públicas? Como ser exemplo consistente enquanto líder, que efetivamente impacte nos servidores públicos de forma positiva em tempos tão turbulentos, disruptivos e de grande insegurança?


Liderança no setor público

Antes de qualquer coisa precisamos ter clareza: ser líder vai muito além de ocupar posições estratégicas em uma instituição. Liderar significa influenciar as pessoas, o ambiente organizacional de forma a contribuir para melhores resultados e entregas, especialmente tendo consciência de sua responsabilidade com as pessoas!

Uma pesquisa realizada pela Universidade Duke com a parceria para Lideranças de Impacto no Setor público e no Terceiro Setor, formada pela Fundação Brava, Fundação Lemann, Instituto Humanize e Republica.org, e o CONSAD – Conselho Nacional de Secretários de Administração serviu de material de apoio para o “Guia prático para engajamento de equipes”.

O referido material vem contribuir com reflexões e práticas voltadas para o pilar de engajamento de servidores e equipes, onde lideranças têm grande impacto e portanto, a responsabilidade de implementar mudanças positivas. Servidores mais engajados são mais produtivos, felizes e inovadores e, portanto, contribuem mais efetivamente para que as instituições ofereçam serviços de mais qualidade e mais eficazes para os cidadãos.

Leia também: A importância da liderança em tempos de crise para estados e municípios


O cotidiano de um líder em instituições públicas (e privadas)

Kim Scott, em Empatia Assertiva registra avidamente a lembrança de que nós, como qualquer ser humano, só podemos ter um relacionamento profundo com um número limitado de pessoas, entretanto, nosso relacionamento com um certo número de pessoas que respondem diretamente a nós afetará significativamente os resultados de uma equipe. Ou seja, seus relacionamentos com os subordinados diretos irão afetar os relacionamentos que eles desenvolverão com os subordinados diretos deles. Basicamente estamos descrevendo aqui um efeito dominó, que muitos parecem se esquecer acerca do poderoso impacto desse no cotidiano das instituições.

Esse efeito dominó ou efeito cascata (como preferir), de acordo com a autora, tem um enorme poder de criar ou destruir uma cultura positiva.

Isso leva ao entendimento de que se você quer ser um verdadeiro líder ou um bom chefe (a autora traz uma reflexão interessante sobre essa última terminologia desmistificando o aspecto pejorativo de outrora) é indispensável que você necessariamente passe um tempo de qualidade com seus subordinados diretos. Não quer dizer todo o tempo, mas sim, você precisa de um tempo dedicado à gestão de sua equipe.

Como ter um tempo de qualidade com sua equipe?

Pode parecer bobagem dizer isso para alguns (o que me deixa bem feliz, já que seria um sinal de gestores conectados com um estilo de liderança necessário), mas garanto, várias chefias no setor público, com os quais convivi ou apenas conheci consideram tal tempo inútil (tem certeza!), desnecessário ou até mesmo contraprodutivo. Pasmem!

Mas, para aqueles que acreditam no impacto de uma boa gestão, a autora segue com algumas orientações práticas e possíveis de implementar para liderar em tempos de crise: “para você que cumpre 40 horas semanais, dedique 10 horas de seu tempo para gerir sua equipe, pois isso evitará dores de cabeça e perda de tempo mais adiante! 15 horas de sua semana reserve para as atividades sob sua responsabilidade direta. Isso lhe deixaria com 15 horas semanais para lidar com os imprevistos, que sabemos fazem parte da rotina de todos que ocupam posições estratégicas (nem sei por que chamamos de imprevistos já que até esperamos por eles!)”.

Neste ponto, você pode estar pensando: ocupar boa parte de seu tempo gerindo (escutando especialmente) sua equipe parece mais ser um papel de um terapeuta ou algo similar do que exercer realmente seu papel como liderança. Aqui que geralmente erramos!

Scott destaca: toda vez que se pega achando ter algo mais “importante” para fazer do que dar ouvidos às pessoas, ela se lembra “é esse meu trabalho!”

Precisamos deixar de pensar que esse trabalho é papel de quem atua em áreas específicas como saúde, educação e assistência social, por exemplo, e ter a clareza (e a certeza!) de que é nosso dever enquanto líderes. Na prática é a base para que sejamos efetivos líderes que contribuam para a mudança de qualquer realidade.


Quais são as principais responsabilidades como líderes?

Orientar

Dar feedback focando nos elogios, mas especialmente nas críticas. É errando que aprendemos mais. Mas precisamos ter consciência onde erramos para superar tais falhas e, principalmente, não seguir cometendo os mesmos erros! Você enquanto líder precisa esclarecer e orientar seus liderados quanto a isso, pois é muito comum sozinhos não termos clareza sobre esses tropeços. Scott nos alerta “É possível traçar uma linha reta entre um feedback insuficiente de liderança e uma equipe disfuncional, que apresenta resultados insatisfatórios”.

Desenvolvimento de equipes

As pessoas certas nos lugares certos e motivadas! E por favor: a máxima – selecione pessoas inteligentes e as deixe trabalhar é verdadeira! O líder aqui deve contribuir gerenciando os 2(dois) perfis, que encontramos nas equipes: a rocha e a estrela. Para te auxiliar nisso, Kim Scott esclarece que toda equipe precisa equilibrar esses 2(dois) elementos: a rocha que são os profissionais robustos e estáveis. Aqueles que adoram seu trabalho, tem um bom ou ótimo desempenho, mas não anseiam por ocupar novos cargos, pois são mais conectados com o conceito de estabilidade. A estrela são aqueles profissionais focados em obter uma nova promoção, que não se sentem motivados se ficarem por muito tempo na mesma posição ou função. Também são necessários, pois são sinônimo de crescimento. Identificar esses perfis, respeitar os mesmos, estimular a interação e colaboração entre esses e dar espaço para que se desenvolvam conforme seus interesses e necessidades é ganho certo para todos!

Entregar resultados

Lembrando que não atingimos sozinhos os resultados! Oriente sua equipe para atingir os resultados coletivamente. Incentive, proporcione e fomente o trabalho colaborativo e multidisciplinar, pois esse é o caminho mais ágil, simples e efetivo para se atingir resultados eficazes.


A escuta ativa e a empatia assertiva para liderar em tempos de crise

Para cumprir as responsabilidades indicadas no tópico anterior, Scott nos esclarece que nosso progresso enquanto líderes depende dos nossos relacionamentos e não de nosso poder! Nesse sentido é essencial focar na construção de relações de confiança e para isso a escuta ativa e a empatia assertiva são seus maiores aliados!

Bem, e como colocar isso em prática? Primeiro esqueça a ideia de que podemos nos separar em 2(duas) dimensões distintas: a profissional e a pessoal.

O primeiro passo para aderir a empatia assertiva é ter consciência que nós somos essas 2(duas) dimensões combinadas. Para você escutar, se importar e influenciar seus liderados você precisa construir relacionamentos e isso é uma questão pessoal! Aliás, profundamente pessoal como diz Scott:

“A empatia assertiva é o que acontece quando você combina as dimensões “importar-se pessoalmente” e “confrontar diretamente”. A empatia assertiva desenvolve a confiança e abre as portas para o tipo de comunicação que o ajudará a atingir os resultados pretendidos”.

Já a escuta ativa demanda uma mudança importante referente à uma postura automática, que a maioria de nós seres humanos desenvolvemos: a de julgar! Ao parar para escutar seu subordinado, colega ou par devemos realmente focar atentamente no interlocutor e buscar compreender o que está sendo dito, suas preocupações e anseios. Observar suas palavras, expressões corporais e todas as reações que a linguagem corporal traz, e sempre, sem julgar!

Algumas dicas que podem te auxiliar para liderar em tempos de crise

  • Esteja presente! Não use o celular, não desvie o olhar constantemente, foque sua atenção na pessoa que está a sua frente!
  • Não destaque na fala do seu interlocutor somente aquilo que fez bem aos seus ouvidos. Não o interrompa para ressaltar o que te agradou e principalmente, não ignore as críticas e ideias contrárias às suas!
  • Talvez uma das dicas mais importantes: não conclua os pensamentos do seu interlocutor antes que ele termine de falar!

Esse artigo fez sentido para você?

Então sugerimos que leia o Guia e o livro indicado por aqui. Espero que te auxiliem tanto quanto me motivaram a mudar meu ponto de vista e especialmente, minha prática enquanto líder, que acredita no potencial das pessoas para transformar quaisquer realidades.

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