Esse conteúdo faz parte do Blog do CLP, um espaço onde as lideranças formadas pelos cursos do CLP compartilham boas práticas, aprendizados e soluções. No caso deste texto, por exemplo, criadas ou otimizadas através da participação no Master em Liderança e Gestão Pública. O texto, do líder Ademar Bueno, levanta e explica o termo intraempreendedorismo, ao falar sobre a falta de inovação dentro do setor público brasileiro. Leia:
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O Brasil não possui uma cultura empreendedora dentro do setor público. Não estamos dizendo que governos não estimulem a abertura de novos negócios, mas que os gestores públicos, em geral, têm dificuldade em aplicar o valor do empreendedorismo na formulação de políticas públicas e levar esse conceito para seu dia a dia operacional.
Aqui se faz necessário diferenciar o cidadão empreendedor – aquele que abre um CNPJ, assume riscos, toma crédito, gera empregos e se sujeita às regras do mercado; daquele que chamamos de intraempreendedor, a pessoa que busca a inovação como um valor em sua atuação e empreende dentro dos limites de uma organização já estabelecida, seja ela de mercado, social ou pública.
O intraempreendedor dentro de uma empresa é aquele que busca criar novos produtos e negócios. Abrir mercados, gerar processos que diminuam tempo, custos e geram mais lucros para o negócio. Analogamente, seria maravilhoso termos esse perfil de profissional em órgãos públicos, pois os serviços ofertados à população estão longe de ter uma avaliação majoritariamente positiva.
Basta olhar alguns cenários de algumas áreas tais como educação, mobilidade e saúde. Enquanto empresas desses segmentos citados acima estão sempre inovando, seja por novos modelos de negócio, seja por tecnologia e acessibilidade ao cliente, o poder púbico não consegue a mesma velocidade evolutiva. Aqui lembramos um amigo com quem estudei no Master em Liderança e Gestão do Centro de Liderança Pública: “não tem inovador que se anime frente à Lei 8.666”.
Mas como seria possível “furar a bolha” das organizações públicas, notoriamente reconhecidas como especiais no que diz respeito ao excesso de hierarquia, regras e burocracia? Treinar servidores e reforçar o intraempreendedorismo é suficiente para termos resultados em curto prazo? Uma solução encontrada pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) do Estado de São Paulo foi a criação de um processo seletivo inovador no governo, meritocrático, que trouxesse novos quadros para cargos comissionados com um histórico profissional ou uma alguma habilidade empreendedora para o cargo de Diretor Regional (DR).
O DR faz a ponte entre a SDE e os 217 Postos de Atendimento ao Trabalhador (PAT) em todo o Estado, tecendo a contato com empresas, sindicatos e organizações diversas de modo a fomentar a empregabilidade para os cidadãos. Na gestão atual da SDE, os PATs passaram a ter a tarefa do incremento da qualificação profissional e da geração de renda (empreendedorismo) junto à população. Ou seja, o perfil para essa vaga não podia seguir o histórico existente até então, mas trazer alguém com perfil inovador e empreendedor.
O Programa Time de Valor
Foi feito um acordo de cooperação com a Aliança, organização formada pela Fundação Lemann, Fundação Brava, Instituto Humanize e Instituto República, entidades que têm como objetivo contribuir com serviços de gestão de pessoas no setor público e no terceiro setor. O acordo de cooperação técnica não envolveu transferência de recursos financeiros entre a SDE e a Aliança e o parceiro especialista deste trabalho foi o Instituto Publix, responsável pela realização dos processos técnicos de seleção e suporte operacional das etapas. Foi criado um grupo de trabalho com membros da SDE, PRODESP e Escola de Governo do Estado de São Paulo, que foi capacitado e responsável pela operação de todas as etapas. Nasceu assim o Time de Valor.
Nenhuma indicação política foi considerada e os números do funil seletivo foram animadores: 2.837 inscritos na plataforma on-line, 1.946 currículos cadastrados, 1.332 testes on-line respondidos, 892 estudos de caso enviados por meio de vídeos, 80 entrevistas à distância (5 por vaga) e uma banca final presencial com 48 candidatos para chegar nos 16 selecionados, uma para cada região administrativa do Estado de São Paulo.
Para a banca final cada candidato, foi elaborado um plano de ação local para sua região de interesse. Assim, levou em conta o potencial local de negócios, desemprego, número de MEIs, os PATs. De modo a possibilitar para cada uma das 16 regiões administrativas ações de geração de trabalho e renda. Cada plano conteve objetivos estratégicos, indicadores, metas e ações para o desenvolvimento regional; identificação de riscos; e estratégia de comunicação e engajamento dos atores estratégicos.
O resultado do processo foi mais que satisfatório. A maioria dos escolhidos veio do mundo corporativo, inclusive do sistema bancário. Todos têm curso de pós-graduação. Também foi levado em contata o fator diversidade, por exemplo, sete são mulheres. Alguns dos selecionados têm até mesmo experiência profissional no SEBRAE. Todos com muita vontade de fazer a diferença no governo e trazer a oportunidade da geração de renda para o cidadão em vulnerabilidade social.
O Time de Valor inspirou outras secretarias do nosso estado a optarem por um processo similar, utilizando a plataforma por nós desenvolvida para processo seletivo de público externo para cargos de comissão. Até mesmo uma secretaria de outro estado, no caso da região Nordeste, buscou nossa equipe interessada em nossa tecnologia inovadora.
O Time de Valor demonstra a possibilidade de se trazer mentes disruptivas para o governo, sendo ele próprio, um case de intraempreendedorismo. Nossos diretores já estão atuando em todo o Estado, levantando informações junto aos mais de mil atendentes em nossos postos de atuação, contatando empresas, prefeituras, secretarias diversas e, junto com equipes do SEBRAE, criando ações de incentivo ao empreendedorismo.
Ademar Bueno, é Administrador de empresas pela FGV-SP, mestre em Ciências da Saúde pela Medicina Santa-SP. Estudante de psicologia, professor e coordenador do LablES-FGV. Ele também é líder MLG, pelo Master em Liderança e Gestão Pública. Ademar, atualmente é Subsecretário de Empreendedorismo, Renda e Trabalho da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo.