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Liderança: ser ou não ser?

Esse conteúdo faz parte do Blog do CLP. Esse é um espaço onde as lideranças formadas pelos cursos do CLP compartilham boas práticas, aprendizados e soluções que, nesse caso, foram criadas ou otimizadas através da participação no Master em Liderança e Gestão Pública.

O texto da líder Alice Maria Souza Szezepanski fala sobre os desafios de exercer a liderança pública. Confira:

 

Mediação de conflitos através da liderança

Diante de uma realidade criada pela instabilidade na relação entre uma diretora e uma vice-diretora, surgiu a necessidade de interferência protagonizada pela Secretaria de Educação. Saindo da lógica de uma postura autoritária, propus um formato de Mediação de Conflito de Gestão (MCG) – postura abordada no meu trabalho de conclusão de curso, quando aluna do Master em Liderança e Gestão Pública – MLG – como possível minimização e/ou solução em situações onde a gestão e a liderança estão em situação de fragilidade ou, até mesmo, inexistem.

Assim, diante de um final de ano letivo e de uma comunidade insegura:

  • Foi de bom tom escutar;
  • Inteligente pensar sobre liderança e suas nuances;
  • Imprescindível conversar sobre gestão e o serviço público.

Dessa forma, comecei a primeira experiência exitosa do programa de qualificação de gestão e liderança pública. Toda pesquisa é pouca quando se trata de compreender esse comportamento que marca uma das maiores, se não a maior, crise que vivemos: a crise na Liderança, em especial, na Liderança Pública. Do micro ao macro cosmo.

Liderança: ser ou não ser?

A liderança como relação entre pessoas

Até que a realidade de uma escola, onde cada gestor permanecia por menos de um ano no cargo, revelou a importância do entendimento de que é relativamente comum entrarmos em um redemoinho de quereres individuais, que vêm de verdades absolutas e de surdez coletiva, negando a importância de uma cultura organizacional.

E, mais que isso, não mais importando a perenidade, porque recorrentemente estamos inventando a roda, recriando o que nem foi experimentado, descartando o que nem foi implantado e analisado na sua efetividade.

Trazendo a ideia de liderança como relação entre pessoas e suas complexidades, exponho, em especial, essa experiência que foi apresentada à comunidade escolar como um momento de reinvenção.

Desconfiados depois de tantos gestores sem sucesso, a comunidade escolar ouviu uma proposta estranhamente compreensível, e até simpática, visto que chegava pela fala de uma pessoa encaminhada pela Secretaria de Educação com o rótulo de “interventora”.

O trabalho foi apresentado de forma didática, com rigor científico e afeto.

“Temos que admitir que existem problemas, pois não é normal que em uma escola com esse potencial (530 alunos, mais de 450 famílias, 110 servidores), tenhamos que buscar soluções e pessoas de fora para “inventar” a identidade do espaço de aprendizagens, vivências, convivência e trabalho”. Assim começou nossa relação.

Esperançosos, mas com algumas desconfianças, nos convencemos de que faríamos, juntos, a garimpagem de nossas fragilidades, de toda ordem, e pautados na confiança de que as soluções estavam ali no nosso cotidiano, começamos o trabalho.

 

O coletivo nas ações e soluções

Reuniões para alinhamento de ações aconteceram paralelas ao andamento de uma escola que não pode parar um segundo sequer, levando-se em conta as fraldas, mamadeiras, brinquedos, joelhos ralados, febre, correrias, tombos, hora do sono. Gente de zero a cinco anos de idade, gente que exige que a cozinha funcione oito horas sem parar, pois são entre três e cinco refeições por dia, com suas especificidades, pois são atendidos os intolerantes a alguns alimentos, os atípicos que comem alimentos de uma só cor e espessura, os que choram para comer e os que acordam rindo da vida.

Dessa forma, a escola seguiu seus caminhos enquanto novos caminhos eram construídos usando:

  • As ideias dos trabalhadores que nunca haviam sido escutados;
  • As opiniões de pais que antes eram ouvidas, mas não se transformavam em ações; e
  • Os ajustes em estratégias de gestão pela ética e pelo atendimento do que pressupõe um trabalho coletivo, firme nos propósitos de crescimento humano, pautado na legislação, na compreensão e na importância do papel de cada um, sempre ressaltada.

Assim, reconhecendo o trabalho e as sugestões de todos, favorecendo e fortalecendo o coletivo, comecei a desenvolver o grande núcleo do trabalho de MCG: a identificação de lideranças.

Em um time de professores com formação e com uma vontade de fazer “bem feito”, começou a andança para viabilizar a criação de uma equipe diretiva que emergisse do grupo, validando a ideia de que as soluções estão na coalizão de forças, mas em especial nas lideranças internas, que conhecem o cotidiano como nenhuma outra pessoa/profissional poderá conhecer.

 

Os desafios da liderança pública

É desafiante conciliar gestão com liderança quando desejos, necessidades, vaidades, eleições e legislações, por vezes, propõem a inércia. Quando no mesmo barco os remos se dirigem para rumos diferentes, gerando grande dificuldade de alinhamento e de criação de uma agenda positiva.

Também, não são raros os esforços de liderança na administração pública que avançam mais em autopromoção e retórica do que em fatos concretos.

O campo de atuação encontrado nessa área de estudo, além de vasto no que tange a compreensão dos liderados, remete a uma nova cultura operacional que pressupõem mudanças na forma de pensar conceitos usualmente deixados a margem quando tratamos de questões públicas e sua gerência, como:

  • Eficiência;
  • Eficácia; e
  • Efetividade.

Quando se pensa em uma atuação pública autêntica, é preciso pensar em humildade, resiliência, reinvenção, comunicação e compreensão. É viver e ser com, para e pelas pessoas e propósitos.

 

Liderança: ser ou não ser?

E a Escola? Segue o seu caminho com suas lideranças, nascidas ali, de si mesmas e de seu meio. Segue com suas dúvidas e projetos, com identidade e com respeito pela própria história.

Isto posto, para cercear pensamentos retrógrados e individualistas, é preciso pautar o trabalho da gestão e da lideranças públicas no sentido de inferir numa ideia de que liderança, para além de uma escolha, é existir com significado.

Líderes podem não emergir, mas são e, por vezes, precisam de alguém, um outro líder, que oportunize seu “acontecer”.

 


 

Imagem Alice - Blog do CLP

Alice Maria Souza Szezepanski é licenciada em educação artística e líder MLG pelo Master em Liderança e Gestão Pública – MLG. Ela também é especialista em trabalho docente, mestre em educação – do pátio a calçada, construindo uma escola sem violência:  indisciplina, disciplina e da violência, pela Universidade Federal de Pelotas. Atualmente é supervisora da Secretaria de Educação para implantação e acompanhamento do projeto Escola de turno integral do município de Pelotas RS.

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