O termo Smart City (Cidade Inteligente), pode ser desconhecido mesmo para aqueles que se encontram inseridos no setor público, mas se trata de uma das principais tendências em projetos urbanos e novos modelos de gestão pública.
Mas antes de nos aprofundarmos no tema, precisamos entender a definição e origem do conceito Smart City, como aplicá-lo e quais os exemplos no Brasil e no mundo.
O que é Smart City?
A União Europeia define esse termo como um lugar onde as interações e serviços são feitos com maior eficiência, além de usar a tecnologia para o benefício dos habitantes e negócios. Mas isso vai além da instalação de redes wi-fi em praças públicas: inclui um sistema de transportes mais eficiente, melhor gestão de resíduos, busca de soluções sustentáveis para geração de energia, além de uma comunicação e prestação de serviço municipal mais inteligente.
O conceito de Smart City surgiu entre os anos de 1990 e 2000, com o objetivo de definir as mudanças que a tecnologia trouxe para a sociedade. Não somente nos ambientes privados, como também nas demandas sociais para o gestor público, que se viu diante de um contexto com maior dinamismo e urgência.
Quais os critérios para se definir uma cidade como Smart City?
A IESE Business School, universidade referência mundial na área de negócios, publica desde 2014 um ranking anual, classificando as cidades que mais se desenvolveram no conceito de cidade inteligente. O IESE Cities in Motion Index avalia 9 dimensões, sendo estas:
- Capital Humano
- Coesão Social
- Economia
- Governança
- Meio Ambiente
- Mobilidade e Transporte
- Planejamento Urbano
- Conexões internacionais
- Tecnologia
Cada uma dessas variáveis é composta por um subgrupo de indicadores. Por exemplo, a dimensão de Capital Humano é impactada pelo percentual da população com educação superior, número de universidades e museus, entre outros números. Já o ranking na categoria Meio Ambiente é definido a partir da análise dos índices de poluição, emissão de gás carbônico, acesso à água potável etc.
No ranking de 2020, as cinco primeiras colocadas foram, respectivamente: Londres, Nova Iorque, Paris, Tóquio e Reiquiavique, na Islândia. Já a cidade brasileira mais bem colocada foi São Paulo, ocupando a 123ª posição, com destaque para a sua colocação na categoria Conexões Internacionais, como a 41ª cidade da lista.
Outra lista que busca classificar as cidades mais inteligentes do mundo é a Smart City Strategy Index, feita pela consultoria Roland Berger. Para elencar as cidades, são analisados 12 critérios, divididos em dois grupos:
- Ação: gestão de energia e meio-ambiente, mobilidade, saúde, educação, governança e edificações.
- Facilitadores: infraestrutura, estrutura política e legal; engajamento dos cidadãos e demais atores urbanos; coordenação administrativa; planejamento, e orçamento.
No ranking publicado em 2019, as três primeiras colocadas foram, respectivamente: Viena, Londres e a canadense St. Albert, com destaque para a última que é a única cidade do pódio com menos de um milhão de habitantes.
Quais os exemplos no mundo?
Mesmo com uma população muito inferior à de outras cidades que sempre figuram nos rankings de smart cities, a cidade canadense St. Albert, de apenas 53 mil habitantes, conseguiu se destacar em meio a grandes metrópoles como Londres, Paris, e até mesmo Viena. Em 2016, foi publicado o Smart City Master Plan, plano diretor da cidade que tem como objetivo a melhoria da prestação de serviços aos cidadãos, do desenvolvimento econômico e da eficiência organizacional. O plano utiliza 22 estratégias para alcançá-los, além de estabelecer um nível de prioridade para a implementação de cada uma das ações.
Assim como St. Albert, Viena também elaborou um plano para guiar suas ações na implementação de políticas inteligentes na cidade. Os objetivos vão desde a redução do tráfego motorizado individual, até a oferta de habitações de qualidade a preços acessíveis, e passando por se tornar a cidade mais transparente quanto a sua gestão pública.
E no Brasil?
Apesar das cidades brasileiras não aparecerem com grande destaque nos principais rankings de smart cities, algumas organizações trabalham no desenvolvimento do tema no Brasil. Atuando na promoção do debate, oferecendo suporte para cidades em projetos de iluminação pública, e até mesmo criando bairros que apliquem vários conceitos de uma cidade inteligente.
Um exemplo é a Connected Smart Cities, uma organização que tem como objetivo promover a troca de informações e ideias entre empresas, governos e entidades, visando tornar as cidades brasileiras mais inteligentes e conectadas. Já o IPGC (Instituto de Planejamento e Gestão de Cidades), oferece para o poder público suporte na elaboração e análise de PPP’s (Parcerias Público-Privadas), com foco em projetos de iluminação pública, geração de energia e sustentabilidade.
Outra organização que atua no desenvolvimento de smart cities no Brasil é a Planet Smart City, que oferece lotes e residências em bairros com diversas soluções de meio ambiente, infraestrutura, tecnologia e pessoas. As ações passam por hortas urbanas, irrigação inteligente até carona comunitária entre os residentes e um espaço para biblioteca.
Podcast Coisa Pública: Como funcionam as PPP’s no saneamento básico?
Oportunidades
Ainda que o termo Smart City tenha sido cunhado na década de 90, o conceito ainda é pouco explorado na gestão pública dos municípios brasileiros, e nos oferece um leque de oportunidades. A partir da busca de ações mais inteligentes e conectadas com o cidadão, é possível resolvermos desde problemas estruturais como o saneamento básico e garantir uma melhor organização do trânsito usando do big data, até cuidar de temas cruciais para o futuro da humanidade, como a preservação ambiental através da expansão de fontes de energia renováveis.
Mais do que usar a tecnologia no dia a dia, ser uma Smart City diz respeito a usar e gerir com eficiência os recursos da cidade, buscando criar um ambiente dinâmico, igualitário, acessível e em constante evolução.