Conceito de competitividade e sua relevância
Competitividade, conforme apresentado no estudo “The Determinants of National Competitiveness” de Delgado, Ketels, Porter e Stern, pode ser entendida como a capacidade de um país de gerar alto nível de produção por trabalhador potencial, mobilizando efetivamente sua força de trabalho. Esse conceito, denominado competitividade fundamental (ou foundational competitiveness), vai além da produtividade por trabalhador empregado, pois considera também a inclusão e participação da população em idade ativa. Trata-se, portanto, de uma medida abrangente de como um país sustenta seu desempenho econômico, envolvendo a qualidade do ambiente de negócios, das instituições e das políticas macroeconômicas.
No modelo dos autores, são identificados três determinantes principais da competitividade: (i) infraestrutura social e instituições políticas (SIPI), (ii) políticas monetárias e fiscais (MFP) e (iii) ambiente de negócios no nível microeconômico (MICRO). A estabilidade institucional, a garantia do Estado de direito e o acesso a saúde e educação básica formam a base para a atividade econômica. Em paralelo, políticas fiscais e monetárias sólidas ajudam a manter um ambiente previsível e reduzir oscilações que prejudiquem o crescimento de longo prazo. Já o pilar microeconômico, que envolve inovação, qualificação da mão de obra, práticas empresariais avançadas e infraestrutura de qualidade, exerce impacto direto na produtividade e na capacidade de mobilizar trabalhadores.
O artigo apresenta o conceito de atratividade global para investimentos, o qual compara a competitividade fundamental de um país aos seus custos de fatores produtivos. Países como China e Singapura, que combinam alta competitividade com custos relativamente baixos, atraem investimentos significativos e experimentam crescimento acelerado. Por outro lado, países como Grécia e Espanha, cujos custos superam sua competitividade, enfrentam dificuldades em sustentar sua prosperidade. Essa ideia destaca a importância de alinhar estruturas de custo com a produtividade para manter o dinamismo econômico.
O estudo argumenta que a competitividade nacional depende de uma abordagem integrada, combinando estabilidade institucional, políticas econômicas sólidas e dinamismo microeconômico. Embora fatores históricos moldem as condições iniciais, as escolhas contemporâneas, especialmente aquelas que melhoram o ambiente de negócios, desempenham papel crucial na trajetória econômica de um país. Os resultados empíricos apontam que os formuladores de políticas devem se concentrar em aprimorar o ecossistema microeconômico, ao mesmo tempo em que mantêm a estabilidade institucional e fiscal, visando alcançar uma prosperidade sustentável.
A atratividade microeconômica refere-se às qualidades específicas do ambiente empresarial de um país, as quais potencializam sua capacidade de atrair investimentos, promover a inovação e melhorar a produtividade em nível empresarial. Ela aborda fatores que influenciam diretamente o desempenho das empresas, a mobilização da força de trabalho e o dinamismo econômico, como a qualidade da infraestrutura, o capital humano, as práticas empresariais, a competição e a capacidade de inovação.
Segundo o artigo, a atratividade microeconômica pode ser aprimorada por meio de várias estratégias essenciais. Entre elas está a melhoria do ambiente de negócios nacional, que inclui o aprimoramento da infraestrutura física e digital, a redução da burocracia e a garantia de processos administrativos eficientes. Exemplos práticos incluem simplificar o registro empresarial, reduzir exigências de licenciamento e fortalecer a infraestrutura logística.
Investir em capital humano também é fundamental, já que uma força de trabalho qualificada é essencial para a produtividade. Políticas que promovam educação de qualidade, treinamento vocacional e desenvolvimento contínuo das habilidades garantem que a força laboral atenda às demandas das indústrias modernas. A educação gerencial e o treinamento em liderança também colaboram para operações empresariais mais sofisticadas.
Promover inovação e desenvolvimento de clusters é outra estratégia destacada. A inovação prospera quando empresas, fornecedores, prestadores de serviços e instituições de pesquisa operam em redes interconectadas. Os governos podem apoiar esses clusters facilitando o intercâmbio de conhecimento, financiando pesquisa e desenvolvimento e incentivando a colaboração entre indústria e academia.
Garantir condições competitivas de mercado também é vital, uma vez que altos níveis de competição impulsionam eficiência e inovação. A redução de práticas monopolísticas, a garantia de concorrência justa e a abertura dos mercados ao comércio internacional aumentam a atratividade microeconômica.
Além disso, melhorar o acesso ao capital é essencial, já que mercados eficientes possibilitam que empresas invistam em tecnologia, expandam suas operações e inovem. Políticas que ampliem o crédito disponível, reduzam os custos de empréstimos e atraiam investimentos estrangeiros contribuem para um ambiente empresarial vibrante.
Outro ponto crucial é fomentar a qualidade regulatória e a sofisticação empresarial, com regulamentações amigáveis aos negócios, sistemas tributários transparentes e políticas comerciais favoráveis. Incentivar as empresas a adotar práticas avançadas de gestão, como remuneração baseada em desempenho e monitoramento eficaz dos resultados, também aumenta a produtividade.
A perda de competitividade do Brasil
O Brasil, desde os anos 1980, tem perdido posições relativas no ranking de desenvolvimento, com seu PIB per Capita sendo superado por cada vez mais países ao longo dos anos. Até a primeira metade dos anos 2000, o país conseguiu superar da hiperinflação e reduzir significativamente as taxas de miséria. No entanto, a agenda de competitividade e produtividade, que sempre esteve presente, mas não central, desde os anos 1990, perdeu tração, e o pais permaneceu mais de dez anos sem um plano para combate a perda de dinamismo da economia brasileira.
Essa complacência custou seu preço. À medida que diversos outros países em desenvolvimento implementavam políticas para impulsionar sua competitividade, o Brasil manteve uma estratégia pouco coordenada, deixando de acompanhar as transformações do ambiente global.
Os dados mostram que, entre 1979 e 1999, o crescimento do PIB per capita brasileiro esteve alinhado com o que se esperava, considerando o nível inicial de renda. No entanto, de 1999 a 2019, o Brasil apresentou desempenho aquém do esperado, ficando para trás em comparação a economias que antes se encontravam em patamares semelhantes. O quadro se agrava se analisarmos o período de 2009 a 2019, no qual o país registrou o pior resultado em termos de crescimento da renda per capita entre as nações selecionadas. Esse atraso reflete não apenas a falta de reformas estruturais nos últimos anos, mas também a ausência de uma agenda robusta de competitividade, capaz de impulsionar a produtividade e promover o desenvolvimento econômico sustentável.
Gráfico 1: PIB per Capita (em PPC 2021) de países emergentes de 1979 a 2019

O crescimento do PIB per capita pode ser decomposto em quatro componentes centrais: produtividade por hora trabalhada, jornada de trabalho média, porcentagem da população ocupada em relação ao total de adultos e proporção de adultos em relação à população total. Esses fatores atuam de forma conjunta para determinar o nível de renda de um país, pois influenciam tanto a capacidade de produzir mais (ou melhor) com os recursos disponíveis como a disponibilidade efetiva de mão de obra em idade produtiva. Em termos de desenvolvimento de longo prazo, contudo, a produtividade por hora trabalhada costuma exercer o papel mais determinante, já que ela reflete a capacidade de inovar, adotar novas tecnologias e aperfeiçoar processos produtivos de modo contínuo.
Durante a década de 1990, o Brasil conseguiu avanços significativos na produtividade por hora trabalhada, crescendo cerca de 46%, um patamar próximo ao da Tailândia no mesmo período, e superior a países como Chile e México. Contudo, de 2000 a 2009, esse ritmo se reduziu para 23,5% e, de 2010 a 2019, a taxa de crescimento na produtividade brasileira caiu novamente, para 10,7%. Esse resultado posicionou o país entre os piores desempenhos no grupo analisado, à frente apenas do México, que registrou incremento de apenas 3,1%. Tal desaceleração na produtividade por hora trabalhada está diretamente ligada à perda de dinamismo econômico, repercutindo de forma negativa no crescimento do PIB per capita.
Apesar desse declínio, a sociedade brasileira não sentiu imediatamente os efeitos do arrefecimento no ritmo de crescimento econômico. Até meados de 2015, pelo menos dois fatores ajudaram a sustentar o desempenho da economia. Primeiro, a expansão chinesa e a consolidação de relações multilaterais que elevaram os preços das commodities brasileiras, gerando receitas adicionais, fortalecendo a moeda nacional e barateando importados em comparação aos bens locais. Esse cenário “mascarou” a queda de competitividade, uma vez que a renda gerada pelas exportações ainda se mostrava considerável.
Paralelamente, o chamado bônus demográfico contribuiu para manter a oferta de trabalhadores em alta, já que, até meados da década de 2010, a proporção de adultos entre 15 e 64 anos na população brasileira continuava a crescer. Esse fator, entretanto, começou a se reverter à medida que a população idosa passou a crescer mais rapidamente do que a redução proporcional da população infantil. Com isso, um sistema previdenciário já considerado desalinhado tornou-se ainda mais pressionado, evidenciando a urgência de reformas que enfrentem de forma coordenada as dimensões de produtividade, mercado de trabalho e demografia, de modo a garantir uma trajetória sustentável de crescimento econômico para o país.
Gráfico 2: Proporção da População de 15 a 64 anos de Idade

Importância no século XXI e no contexto pós-COVID
No século XXI, a competitividade é crucial para enfrentar as transformações aceleradas pela globalização e pela revolução digital. Após a crise da COVID-19, esses desafios se tornaram ainda mais evidentes: a pandemia desestruturou cadeias de suprimentos, acelerou a adoção de tecnologias digitais e intensificou a necessidade de uma transição para modelos econômicos mais sustentáveis e inclusivos. Países em desenvolvimento, como o Brasil, já lidavam com a chamada “armadilha da renda média”, ou seja, dificuldades para avançar para setores de maior valor agregado, e agora se veem pressionados a promover reformas estruturais para acompanhar as mudanças globais, sob pena de enfrentar níveis crescentes de desigualdade e estagnação econômica.
Para o Brasil, esses fatores tornam-se ainda mais relevantes. O país possui consideráveis endowments (recursos naturais, tamanho de mercado e posição geográfica), mas isso não garante, por si só, competitividade sustentável. É essencial fortalecer as instituições políticas e sociais, garantir políticas fiscais e monetárias alinhadas à estabilidade de longo prazo e, especialmente, fomentar um ambiente de negócios que incentive a inovação, a qualificação da mão de obra e a competitividade das empresas. Em um cenário global de busca por investimentos, torna-se fundamental equilibrar custo e produtividade, evitando que o custo de produção seja maior que a capacidade competitiva. Assim, o Brasil precisa acelerar a digitalização, melhorar sua infraestrutura, investir em pesquisa e desenvolvimento e promover maior integração comercial para tirar proveito das novas demandas globais.
Custos trabalhistas
Os custos trabalhistas desempenham um papel significativo na determinação da atratividade global de um país para investimentos, refletindo o equilíbrio entre competitividade fundamental e custos dos fatores produtivos. Embora baixos custos trabalhistas possam inicialmente tornar um país atraente, seu impacto é complexo e depende do alinhamento com a produtividade e a competitividade geral.
Países com baixos custos trabalhistas em relação à produtividade são mais atraentes para investidores, já que estes buscam locais onde o custo de produção seja inferior ao potencial de produção. A China, por exemplo, historicamente atraiu investimentos devido à combinação de baixos salários e aumento da produtividade industrial. Entretanto, salários baixos isoladamente não garantem atratividade se as habilidades e produtividade forem insuficientes para alcançar os níveis desejados pelas empresas.
Por outro lado, altos custos trabalhistas podem coexistir com forte atratividade, desde que acompanhados por alta produtividade. Alemanha e Suíça possuem salários relativamente altos, mas mantêm competitividade graças a uma força de trabalho altamente qualificada, infraestrutura avançada e práticas empresariais eficientes.
No entanto, um desequilíbrio ocorre quando os custos trabalhistas aumentam mais rápido do que a produtividade, reduzindo a atratividade de investimentos. Países do sul da Europa, como Grécia e Itália, enfrentaram dificuldades nesse sentido, com custos trabalhistas crescentes sem ganhos proporcionais de produtividade.
Entre 2012 e 2023, o custo unitário do trabalho no Brasil aumentou mais de 13%, indicando que os custos do trabalho cresceram acima da produtividade nessa proporção. Em contraste, o Chile registrou um aumento de 8% no mesmo período, enquanto na Colômbia esse custo manteve-se estável. Esses dados sugerem que o Brasil enfrenta desafios relacionados à competitividade e eficiência produtiva.
Para melhorar sua posição no cenário internacional, o Brasil não necessita reduzir salários, mas sim focar no aumento da produtividade. É também crucial que as variações salariais reflitam mais fielmente os níveis de produtividade, alinhando remuneração e desempenho. Investimentos em educação, tecnologia e infraestrutura são essenciais para impulsionar a eficiência e assegurar que os salários acompanhem de perto os ganhos de produtividade, fortalecendo a economia nacional.
Políticas de Desenvolvimento da Força de Trabalho e Educação
O capital humano é a base da competitividade nacional conjunto de instrução, treinamento e habilidades que os trabalhadores acumulam. Em termos práticos, essa dimensão costuma ser medida pela escolaridade média da população adulta. Ao analisarmos a variação de escolaridade e de produtividade entre diferentes países no período de 1989 a 2019, fica evidente uma forte relação positiva: países que ampliaram significativamente o nível educacional de sua força de trabalho também observaram, em média, maiores aumentos de produtividade.
Contudo, o Brasil apresenta uma discrepância importante nesse contexto, como mostra o Gráfico abaixo. Embora o país tenha experimentado um crescimento notável na escolaridade, até consideravelmente superior ao observado na maioria dos países analisados, esse avanço não se refletiu proporcionalmente em ganhos de produtividade. Ao comparar diretamente as variações de capital humano e produtividade, o Brasil se destaca negativamente, muito abaixo da tendência internacional. Essa discrepância sugere que o problema pode estar na eficácia limitada do sistema educacional brasileiro, que não tem sido capaz de transformar o aumento na escolaridade em habilidades práticas e produtivas no mercado de trabalho.
Gráfico 5: Variação Percentual da Escolaridade Média e da Produtividade por Hora Trabalhada entre 1989 e 2019

Adicionalmente, a pandemia causou graves danos à educação e ao desenvolvimento de habilidades, especialmente na América Latina, onde o fechamento de escolas foi um dos mais longos do mundo. Segundo a UNESCO, a COVID-19 desencadeou na região a pior crise educacional do último século, afetando 170 milhões de crianças e gerando o risco de perdas permanentes no aprendizado se as ações de recuperação não forem eficazes. Antes mesmo da pandemia, muitas economias de renda média já enfrentavam dificuldades com lacunas e inadequações nas habilidades profissionais. Na América Latina, 29% das empresas relatam que a falta de qualificação da força de trabalho é uma grande restrição, quase o dobro dos 15% observados no Leste Asiático. Esse déficit prejudica a produtividade e a inovação, reforçando a urgência de políticas efetivas de desenvolvimento profissional.
Diante disso, são necessárias reformas robustas no sistema educacional brasileira para preparar trabalhadores para uma economia pós-pandemia baseada em tecnologia. Muitos países têm adotado programas de recuperação de aprendizado, como aulas de reforço e tutoria, além de modernizar currículos com foco em ciências, tecnologia, engenharia, matemática (STEM), alfabetização digital e pensamento crítico.
Avaliações recentes do Programa para Avaliação Internacional de Estudantes (Programme for International Student Assessment, PISA) mostram que estudantes brasileiros estão significativamente atrás de seus pares internacionais em matemática e ciências. Como resposta, o país tem ampliado investimentos no Fundo Nacional de Educação (Fundeb), expandido os institutos federais técnicos e aumentado o financiamento de bolsas de pesquisa para atender melhor às necessidades da indústria, principalmente em áreas como TI, engenharia e manufatura avançada. No entanto, esses esforços têm se mostrado insuficientes.
Países como Índia, Turquia e África do Sul têm implementado estratégias semelhantes, expandindo a educação terciária, incentivando programas de treinamento vocacional e aprendizados práticos em parceria com o setor privado. A pandemia acelerou ainda mais essa tendência, com a ampliação de programas de ensino remoto e plataformas digitais que permitem aos trabalhadores desenvolver competências em seus próprios ritmos. Para o Brasil, uma agenda abrangente deve incluir desde a educação infantil até a formação contínua ao longo da vida, garantindo assim crescimento econômico inclusivo e sustentável.
Uma das prioridades é reforçar a educação infantil, expandindo a oferta de creches e qualificando a formação dos profissionais que lidam com a primeira infância. Há uma carência significativa de vagas em regiões desassistidas, bem como um mercado não atendido que demanda horários flexíveis. Além disso, mesmo famílias de maior poder aquisitivo ainda veem as creches como opção pouco profissionalizada, optando por babás. Políticas que incentivem a expansão e a melhoria da qualidade das creches, tanto públicas quanto privadas, podem aumentar a participação de crianças em idade pré-escolar e, assim, favorecer o desenvolvimento cognitivo e socioemocional desde cedo.
No ensino básico, os desafios incluem altas taxas de reprovação e evasão, especialmente em famílias de baixa renda e entre mulheres que abandonam a escola por gravidez precoce. Uma possível solução é intensificar o ensino técnico integrado ao Ensino Médio, aproveitando a reforma que permite ofertar itinerários formativos voltados ao mercado de trabalho. Também é importante criar políticas de reforço escolar para alunos vindos de escolas de baixa qualidade, além de aprimorar a formação de professores com programas que combinem teoria e prática, acompanhados de certificação rigorosa. Por fim, faz-se necessária a adoção de programas que promovam autonomia, desenvolvimento socioemocional e cognitivo, de forma sistemática em diferentes etapas do ensino.
No âmbito do ensino superior, o grande destaque é a necessidade de desenvolver competências comportamentais, cada vez mais valorizadas pelo mercado. Instituições podem criar cursos de formação “digital-presencial” focados em habilidades interpessoais, liderança e trabalho em equipe, associados a certificações reconhecidas. Além disso, políticas públicas como o “Future-se” indicam novas oportunidades de parceria entre o setor privado e as universidades públicas, permitindo maior autonomia financeira e ampliando a oferta de serviços educacionais em nível superior.
Por fim, o ensino profissional e tecnológico (EPT) demonstra retornos atrativos no mercado brasileiro, mas ainda é pouco explorado e carece de maior integração com o sistema regular de ensino. A reforma do Ensino Médio de 2017 contribuiu para corrigir isso, mas o setor segue dominado por entidades tradicionais e não atende plenamente à demanda por cursos de curta duração em áreas de alta empregabilidade, como ciência de dados, gestão e saúde. A implementação de modelos híbridos (virtual/presencial) e parcerias diretas com o setor privado pode ajudar a adequar a oferta de formação técnica às necessidades reais do mercado, mudando a percepção da sociedade sobre o EPT e, assim, fomentando um caminho mais dinâmico e acessível de desenvolvimento de capital humano no Brasil.
Políticas Comerciais e Integração Global
Até meados da década de 1980, o Brasil apresentava um nível de abertura comercial relativamente próximo ao padrão de outros países de grande porte econômico. Apesar de manter uma estrutura tarifária relativamente protecionista, essa característica não o distanciava tanto das práticas observadas em economias emergentes comparáveis. O mercado doméstico brasileiro exercia um forte papel de absorção de bens e serviços, enquanto as exportações, embora não fossem amplas, ainda mantinham certa relevância no PIB.
A partir dos anos 1990, porém, muitos países em desenvolvimento avançaram em políticas de liberalização comercial, reduzindo tarifas de importação e se integrando às cadeias produtivas globais. Ao se exporem à competição externa, essas nações também baratearam o acesso a insumos e tecnologias, impulsionando setores industriais e de serviços a inovar e buscar competitividade internacional. Nesse mesmo período, a abertura comercial brasileira evoluiu de forma mais lenta e fragmentada, com reformas pontuais e sem uma estratégia sólida de integração, o que fez o país perder oportunidades de estimular maior competitividade no mercado interno.
Como resultado, hoje o Brasil se encontra entre os países que menos importam e exportam em relação ao PIB, mesmo em comparação a outros de dimensões econômicas e populacionais semelhantes. Enquanto outras economias ampliaram suas redes de acordos comerciais e atraíram investimentos estrangeiros, o Brasil manteve barreiras comerciais e complexidades regulatórias que dificultaram o intercâmbio de bens, serviços e ideias. Esse menor grau de integração limita a aquisição de tecnologias de ponta, reduz a competição interna que estimula ganhos de eficiência e, em última instância, restringe a capacidade de crescimento de longo prazo da economia brasileira.
Gráfico 4: Importações e Exportações como Proporção do PIB

Uma integração mais profunda nas redes globais de comércio é essencial para ampliar a competitividade, pois permite às empresas acessar mercados maiores, novas tecnologias e enfrentar maior competição. No contexto pós-pandêmico, tendências como reshoring (trazer de volta a produção nacional) e nearshoring (produção regionalizada) têm crescido, oferecendo oportunidades para países da América Latina, especialmente diante da busca global por diversificação das cadeias produtivas fora do leste asiático. Porém, a região tem sido lenta na adaptação, vendo sua participação no investimento direto estrangeiro diminuir na última década em comparação à Ásia.
Para melhorar essa situação, economias emergentes têm adotado políticas comerciais mais abertas e investimentos para facilitar negócios internacionais, como mostra o caso do México com o USMCA, que ampliou significativamente suas exportações. Já o Brasil permanece relativamente fechado, com tarifas elevadas e poucos acordos de livre comércio, o que limita sua competitividade. Para reverter isso, são essenciais iniciativas como a conclusão do acordo Mercosul-União Europeia, modernização da infraestrutura logística e simplificação das barreiras alfandegárias, passos que podem reduzir custos e ampliar a participação do país em cadeias globais. Exemplos regionais, como as iniciativas da Colômbia de modernizar seus portos e processos alfandegários, ilustram o tipo de avanço necessário para captar investimentos globais.
Sustentabilidade e Economia Verde
Na recuperação econômica pós-COVID-19, a sustentabilidade assumiu papel central nas estratégias de competitividade. Países estão priorizando iniciativas que, além de enfrentar mudanças climáticas, promovem o surgimento de novas indústrias sustentáveis. A América Latina se destaca positivamente nesse aspecto, com cerca de 50% da sua energia proveniente de fontes renováveis, posicionando-se favoravelmente em mercados internacionais cada vez mais exigentes em relação à pegada de carbono.
O Brasil possui vantagens naturais consideráveis, como uma matriz energética com mais de 80% de fontes renováveis e forte liderança mundial em biocombustíveis, especialmente o etanol. O governo brasileiro aposta no Plano de Transformação Ecológica, que visa criar empregos e produtos verdes de alto valor agregado, incluindo investimentos em energia solar, eólica, veículos elétricos, bioeconomia e agricultura sustentável, mas há espaço para estratégias mais integradas. Países como Chile, África do Sul e Índia também avançam com iniciativas ousadas, como a estratégia chilena de se tornar líder global em hidrogênio verde ou o plano sul-africano de transição energética justa, destacando que o investimento em sustentabilidade não é mais opcional, mas sim uma oportunidade competitiva.
Governança e Reformas Institucionais
A qualidade das instituições e a governança são fundamentais para que as estratégias nacionais de desenvolvimento tenham sucesso efetivo. No contexto pós-pandemia, países têm priorizado reformas para combater burocracia, corrupção e regulamentações ultrapassadas. Economias que escaparam da chamada “armadilha da renda média” fizeram isso justamente através de reformas institucionais profundas, estimulando a competição, premiando o mérito e aproveitando crises para mudanças estruturais importantes.
No Brasil, a recente reforma tributária é exemplo claro desse esforço, buscando simplificar um sistema historicamente complexo, com potencial para reduzir drasticamente o tempo gasto pelas empresas em obrigações fiscais. Outros exemplos positivos são Índia e Turquia, que realizaram reformas institucionais importantes para atrair investimentos e impulsionar crescimento econômico. Para que o Brasil siga esse caminho, será crucial continuar avançando na redução de burocracias, melhoria da eficiência judicial, fortalecimento do combate à corrupção e manutenção da estabilidade macroeconômica. Ao criar um ambiente favorável aos negócios e à inovação, o país poderá finalmente alcançar níveis maiores de competitividade global.
Conclusão
Para melhorar a atratividade global, os países devem investir em educação e habilidades para garantir que salários mais altos correspondam a uma maior produtividade, promover inovação e tecnologia para compensar custos trabalhistas crescentes por meio de maior eficiência, aprimorar o ambiente empresarial, reduzindo obstáculos burocráticos e apoiando o empreendedorismo, e apoiar a flexibilidade do mercado de trabalho, com políticas que incentivem mobilidade profissional, reciclagem e práticas trabalhistas justas.