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Os desafios da saúde no Brasil

O CLP conversou com Karla Coelho, médica, professora de medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e líder MLG sobre os desafios da saúde no Brasil.

Karla foi diretora da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) – responsável pela regulação dos planos de saúde no país. É o órgão que ouve os interesses dos diferentes grupos no setor da saúde: médicos, prestadores, planos e consumidores. Atualmente, cerca de 47 milhões de usuários utilizam o sistema privado de saúde.

Na entrevista, ela conta sobre os desafios de uma atuação conjunta entre SUS e sistemas privados, e também destaca os empecilhos que impedem a oferta de uma saúde moderna e de qualidade.

Qual é a relação entre o SUS e o sistema privado?

Desde a Constituição de 1988, o atendimento à saúde no Brasil está dividido entre o atendimento público – o SUS – destinado a atender toda a população e os planos privados que atendem cerca de 47 milhões de pessoas.

Apesar do SUS e os hospitais privados coexistirem, ainda não há interação e troca de informação entre esses dois sistemas. Se você é atendido num hospital público, o seu plano de saúde não vai saber nada sobre esse procedimento e vice-versa. Esse cenário dificulta bons diagnósticos e deixa o sistema de saúde mais custoso e com menos qualidade.

Por que esses dois sistemas não conversam? O que precisa ser feito para modificar esse cenário?

Existem muitos fatores que impactam negativamente na troca de informações entre

os dois sistemas. Hoje não há incentivos à melhoria da gestão dos planos de saúde, como critérios de entrada e priorização no atendimento, definição de protocolos médicos e acompanhamento do histórico dos pacientes.

É necessário priorizar ações estratégicas para a melhoria de atendimento dos brasileiros, como uma política nacional de promoção e prevenção da saúde, que atuaria conjuntamente sobre os determinantes e condicionantes da saúde envolvendo políticas intersetoriais.

Como funciona a incorporação de tecnologia no SUS?

A tecnologia em saúde não se refere apenas a equipamentos, mas também à aplicação de medicamentos, produtos, procedimentos, sistemas organizacionais, protocolos assistenciais que possam promover a saúde, prevenir, tratar doenças e reabilitar as pessoas.

É um desafio fazer escolhas sobre as tecnologias em saúde para a população que alivie suas necessidades e esteja de acordo com as preferências dos pacientes. Essa dificuldade está muito ligada à falta de priorização que perde para outras questões de gestão consideradas mais urgentes. Também há a ausência de entidades abertas e dispostas a enfrentar essas questões. Nosso país tem uma dimensão continental. É preciso focar esforços nos âmbitos regionais, para entender a fundo essa demanda. Promover articulações com a comunidade, universidades pode ser uma possibilidade.

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Quais são os desafios da saúde no âmbito dos municípios?

As dificuldades dos municípios envolvem, por vezes, questões processuais. Todas as mudanças devem ser desenhadas e testadas, porque tendo um fluxo mapeado é possível identificar o problema, compreender se a dificuldade está na distribuição do medicamento, no processo licitatório ou na falha de comunicação com o médico, por exemplo. Todos esses desafios podem ser solucionados com um desenho estruturado de processos e um diagnóstico real da situação. Além disso, há as questões internas a serem trabalhadas como equipes motivadas, engajadas e capacitadas que entendam seu papel e impacto na comunidade.

O que é necessário para avançarmos na área da saúde?

Em um primeiro momento, precisamos estabelecer o que queremos e definir prioridades que estejam de acordo com a melhoria da qualidade de vida da população e da redução das desigualdades. Hoje, no Rio de Janeiro, uma pessoa que mora na Favela da Rocinha vive 10 anos a menos do que alguém que habita na Zona Sul. Essa desigualdade social impressiona. Na saúde não é todo mundo igual, é preciso trabalhar para dar oportunidades para quem não as possui.

As pessoas adoecem pelo trânsito, pela violência, pela alimentação, ou seja, a saúde está envolvida com os determinantes sociais, o que chamamos de saúde coletiva. É preciso que seja elaborado um plano que englobe outras áreas, setores, comunidades, escolas, igrejas, para entender esse processo e fornecer planos terapêuticos compatíveis com a realidade do indivíduo e suas necessidades.

Karla Coelho é médica, professora-adjunta de Saúde Coletiva na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ex-Diretora da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e líder MLG (Turma 3).

Foi responsável por implantar um sistema informatizado para reajuste dos planos de saúde e análise do redimensionamento das redes hospitalares nos planos de saúde, zerando o passivo de demandas acumulados desde 2012 na ANS. Hoje a análise ocorre em apenas 24 horas. Atuou estimulando programas de promoção e prevenção nas operadoras, discutindo o modelo assistencial, tendo publicado o Manual de Enfrentamento a Obesidade na Saúde Suplementar.

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