Esse conteúdo faz parte do Blog do CLP. Esse é um espaço onde as lideranças formadas pelos cursos do CLP compartilham boas práticas, aprendizados e soluções que, nesse caso, foram criadas ou otimizadas através da participação no Master em Liderança e Gestão Pública.
O texto, da líder MLG Clara Costa, traz uma reflexão sobre o papel de uma boa Liderança frente a nova pandemia em que vivemos. Entenda, segundo ela, o que podemos levar para o futuro:
O Coronavírus, antes desconhecido, se tornou uma realidade em nossas vidas. Entre as inúmeras notícias, informações, discussões e reflexões que temos acompanhado diariamente envolvendo o combate ao vírus e à pandemia, proponho hoje mais uma: o que ele pode nos ensinar sobre liderança?
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O impacto do vírus no ano de 2020
O ano de 2020, além de o início de uma nova década, trazia boas expectativas: último ano de gestão para os atuais governos municipais, eleições com possibilidades de se eleger novos governantes, segundo ano com a perspectiva de muito trabalho para os atuais governos estaduais e federal. Mas as expectativas pararam para o novo Coronavírus chegar. Aliás, tudo parou: nossas escolas, nosso comércio, nossos templos, nossos projetos, nossas fronteiras.
Para além da discussão de que poderia ter sido evitada ou prevenida, fato é que a pandemia pegou o mundo de surpresa. No Brasil, não bastasse a crise econômica e a crise institucional que vínhamos enfrentando, temos agora também uma crise sanitária, com proporções pouco vistas na nossa história. E o pior: causada por um novo vírus, que ninguém sabe ao certo afirmar como surgiu de fato e para onde vai.
O novo Coronavírus nos desafia de inúmeras formas: exige da nossa ciência que se atualize diariamente e busque respostas rápidas; que o Governo Federal exerça a liderança que lhe cabe, orientando e dando suporte aos Estados e Municípios em tempo real; que os governadores, prefeitos e outros gestores locais, por sua vez, atuem de forma dinâmica e em regime de colaboração com a União; que o mercado de trabalho se modernize às pressas para possibilitar outras formas de organização para garantir a produtividade e o consumo; que as pessoas demonstrem um senso de comunidade e uma disciplina que não são características natas do nosso povo.
A Liderança em tempos de pandemia
Aqueles em posição de liderança estão sendo colocados à prova e é um excelente momento para alguns lembretes, talvez duros, mas necessários – tanto para eles, como para todos nós.
É preciso lembrar que cada um dos representantes que aí estão na linha de frente, sejam os prefeitos, governadores, ou o próprio presidente, foram democraticamente eleitos pela maioria da população. Não estão onde estão por um acaso do destino e sim porque um número considerável de brasileiros viu neles potencial para representá-los por um período de 4 anos, no qual tudo poderia acontecer. Aos que costumam reclamar de tudo e de todos, quem sabe agora aquela mensagem clichê que tanto costumamos falar e ouvir (“vote com consciência”, “escolha bem seus candidatos”), seja, de uma vez por todas, internalizada?
Cabe lembrar também que a tomada de decisão baseada em evidências é um dos fundamentos de uma boa gestão, seja ela pública ou privada. No setor público, o preço a ser pago por decisões embasadas por achismos, suposições ou estimativas questionáveis pode ser muito alto, seja a curto ou a longo prazo. Este momento está nos mostrando a seriedade e importância de se buscar fatos e informações verídicas e confiáveis para guiar as ações dos nossos líderes. Talvez de fato eles não tenham todas as informações desejáveis disponíveis – afinal, ainda que tenhamos vivido outras pandemias na história da humanidade, cada uma possui uma escala, suas particularidades e um tempo histórico específico. Mas aqueles que estão embasando suas medidas na análise de dados concretos e estimativas que consideram não só o cenário atual, mas também uma visão de futuro, serão os que sairão melhor do problema.
A chamada Liderança Adaptativa
Outro lembrete muito importante é sobre o nosso senso de urgência para resolver os problemas. Sabe aquele que, enquanto líderes públicos, diariamente criamos para fazer com que as pessoas saiam de suas zonas de conforto e se engajem na mudança? Pois é, ele está batendo à nossa porta, sem dar trégua. E agora não resta outra alternativa aos governantes e gestores se não o enfrentamento do problema. Mas temos muitos outros problemas a serem enfrentados no Brasil. Outras doenças virais que ainda são uma realidade ano após ano (sarampo, dengue, H1N1, hepatites, herpes…), deficiências no nosso sistema de saúde, falta de saneamento básico, altos índices de violência e desemprego, resultados educacionais ruins, corrupção, entre muitos outros. Passado o Coronavírus, porque não manter o empenho, o vigor e o senso de urgência para resolvermos também estes?
A crise ainda nem terminou e já nos preocupa o período pós crise. Como estarão os 38 milhões de trabalhadores e suas famílias que, em 2019, sobreviviam da informalidade, após prolongado período de isolamento social? E os pequenos empresários e empreendedores, que não tinham reservas suficientes para manter seu negócio e seus funcionários sem a rotatividade de clientes? Como ficarão nossas crianças, cujo ano letivo deveria garantir o aprendizado em 200 dias e 800h – o que já era um grande desafio em alguns casos, como demonstram nossos indicadores – com tantos dias e horas a menos?
Mesmo com os incentivos e programas governamentais que vem sendo criados para auxiliar a população – em todas as suas esferas – o futuro é incerto. Cada vez se torna mais premente a necessidade de se nascer enquanto líder no Brasil. Falo dos governantes eleitos? Sim, estes em primeiro lugar. Mas não só eles. Para realmente superarmos tudo isso, vamos precisar de mais.
Mais participação de todos, mais consciência dos nossos direitos e deveres, mais propósito, mais ideias, mais mobilização, mais confiança e menos disputa, mais bons exemplos, mais líderes. Talvez seja essa uma das principais lições que o Coronavírus pode nos ensinar sobre liderança: ela é muito mais do que um cargo ou um título. Você pode ser um líder de onde você estiver, até mesmo de casa. O que define é a sua capacidade de mobilizar outros para uma causa comum, a sua vontade de querer mudar e melhorar a situação em que nos encontramos e o que você faz para isso, o seu exemplo de que aquilo que você acredita ou prega pode ser real. Seja para a sua família, para o seu vizinho, para a sua comunidade, bairro, cidade ou país.
Mesmo em tempos sombrios já temos visto um movimento crescente nesse sentido, motivado por um sentimento que invadiu nossa casa junto com o vírus e reaqueceu nossos corações: a solidariedade. Que sejamos capazes de manter essa chama acesa!
O que podemos levar sobre a crise?
Nesse caminho, é cada vez mais importante olharmos com atenção para os nossos jovens. Até então relegados à posição de alienados, que este momento sirva também para tirá-los da inércia da juventude rumo a uma maior consciência política. Eles também estão em casa. Também eles têm responsabilidades para com o nosso futuro. E podem, com pensamento crítico e sem dogmatismos, nos ajudar a construí-lo hoje.
Que nossos novos líderes não estejam presos a ideologias do passado, já fracassadas no mundo, mas que sejam autores de uma nova: que busque o bem e o bom para todos. Que deixem para trás as antigas leis de sempre buscar vantagens e criem novas leis que levem vantagens, de fato, a todo o povo brasileiro.
Clara Costa é formada em ciências sociais pela UFRJ e líder pós-graduada pelo Master em Liderança e Gestão Pública – MLG. Clara é atualmente consultora pelo Banco Mundial e pela Fundação Getúlio Vargas para projetos de planejamento e gestão de políticas educacionais e integra a equipe da Probono’ss, criando propostas diferenciadas de atendimento à saúde e à educação. A líder em outubro de 2014 publicou seu primeiro livro, “A Arte de Governar”, reunindo suas experiências como gestora pública, estudante de política e cidadã brasileira.