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Eleições 2018 – o que se viu e o que se espera – Texto por Humberto Dantas

A eleição que não foi captada pelas pesquisas e traiu analistas em diversos aspectos, colocou o PSL no mapa político de forma expressiva. Nos próximos dias, especialistas tentarão dar conta de explicar o que quase fez com que Bolsonaro ganhasse as eleições presidenciais em primeiro turno.

O fato é que os principais institutos mostravam um crescimento consistente e uma lógica de voto útil numa tentativa de atrair eleitores conservadores e antipetistas para o seu campo. A estratégia deu certo com simpatizantes do centro: Geraldo Alckmin terminou o primeiro turno com menos de 5% dos votos válidos, Marina Silva com 1% e Álvaro Dias com menos que isso. Em relação ao período de campanha, esses candidatos derreteram nas urnas e o líder do PSL atingiu cerca de 46% dos votos válidos, com abstenção na esperada casa dos 20 pontos (19% em 2014) e baixa soma de votos inválidos – menos de 3% de brancos e 6% de nulos.

Bolsonaro encarnou bem a rejeição ao PT, certa dose de antipolítica, aspectos de uma suposta intolerância à corrupção e um discurso conservador que tem se disseminado pelo país. Para além disso, o atentado que sofreu em 06 de setembro o manteve em forte evidência. No segundo turno suas chances são significativas, pois a maioria dos líderes na primeira rodada vencem pleitos no Brasil, e quando passam à segunda rodada com diferença superior a 10 pontos, essa vantagem raramente é retirada pelo adversário – a dianteira se aproximou de 17 pontos, com Haddad atingindo pouco mais de 29% dos votos válidos. De quebra, Bolsonaro assistiu a uma inesperada ascensão de seus candidatos nos estados. O PSL tem três nomes no segundo turno aos governos – Roraima, Rondônia e Santa Catarina – e conta com apoios declarados de João Dória (PSDB-SP), e dos surpreendentes Romeu Zema (Novo-MG) e Wilson Witzel (PSC-RJ) dentre outros. Ademais, nos estados do Nordeste, região em que Fernando Haddad teve votações mais expressivas, sete dos nove governadores foram eleitos em primeiro turno e as exceções são Sergipe e Rio Grande do Norte. Com o PT reeleito no Ceará, Piauí e Bahia, o PC do B no Maranhão e o PSB em Pernambuco e na Paraíba, o fenômeno da esquerda nordestina pode desmobilizar máquinas de campanhas importantes para a missão de Haddad reverter um quadro delicado. Assim, a chance de Jair Bolsonaro(PSL) ser o próximo presidente do Brasil é muito grande. Seu desafio será atenuar em certa medida parte de seu discurso com acenos para a valorização de instituições democráticas, clarear aspectos de suas intenções econômicas para conter oscilações do mercado, ocupar 50% do horário eleitoral gratuito com uma campanha que não o desabone e participar de debates e entrevistas com desenvoltura minimamente razoável. Sem qualquer fato extraordinário que o desqualifique aos olhos específicos de seu eleitorado, a eleição será sua.

Como um dos principais desafios estaria a lógica da governabilidade. Os discursos que pregavam que a renovação seria baixa no Congresso por conta das reformas políticas que teriam protegido os caciques partidários deu lugar a uma significativa renovação. No Senado, apenas oito representantes foram reeleitos. Na Câmara, os índices inicialmente apresentados dão conta de 53% de renovação, o que representa resultado que aponta ao ímpeto de mudança. Enquanto Distrito Federal e Mato Grosso renovaram sete de seus oito deputados, o Piauí reelegeu sete dos seus dez.

Na Câmara, as maiores mudanças atendem pelo espaço conquistado pelo PSL, o que representa que as alterações vêm acompanhado de um conservadorismo que deu muito espaço a bancadas ligadas ao mundo do combate ao crime com militares, policiais e jornalistas de atrações atreladas à segurança pública entre os candidatos mais votados em diversos estados. O relatório do DIAP – Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar – previa o PSL com menos de 20 cadeiras e o próprio partido esperava 30. Na urna, superou a marca de 50 parlamentares (52) com fortes conotações associadas aos princípios defendidos por sua principal liderança – em 2014, o PSL elegeu um deputado. A legenda, assim, terá a segunda maior bancada da casa, atrás apenas do PT que ficou pouco abaixo dos 60 nomes – elegera 61 em 2014 e 56 agora. A ascensão do PSL marcou a queda vertiginosa das bancadas de MDB (de 66 em 2014 para 34) e PSDB (de 54 em 2014 para 29) que terão pouco mais da metade do que haviam conquistado na eleição anterior.

Importante salientar que a exemplo do que prevíamos, a Câmara ficou ainda mais pulverizada, com 30 partidos representados e cerca de 18 partidos efetivos – cálculo utilizado pela Ciência Política para medir a relevância das bancadas. Em 2014 esse número chegara a 13, colocava o Brasil como o país mais fragmentado em termos partidários no mundo em sua casa legislativa e inspirou parte das reformas políticas que definitivamente não lograram o êxito de reduzir partidos no parlamento. O Novo e a Rede nesse sentido são novidades importantes de serem destacadas – o primeiro fazendo oito deputados federais e o segundo atingindo apenas uma cadeira. Tamanha fragmentação na Câmara torna o exercício de governar extremamente complexo. O que se espera é que Bolsonaro surfe a onda de conservadorismo ainda mais acentuada no Legislativo, e se Haddad ganhar sua agenda terá que se flexibilizar de forma significativa.

No Senado, mais um resultado que mostra forte pulverização partidária. No total, espera-se que o MDB tenha 12 senadores, o PSDB oito, o DEM sete, o PSD, o PT e o PP seis cada um, o PSB e a Rede cinco – ainda existem senadores em disputas por governos estaduais. Ao todo serão cerca de 20 partidos ocupando as 81 vagas, o que em nada contribui para a redução das legendas representadas, como se imaginou em outrora. Governar aqui também será exercício dos mais complexos, pois o Senado tem estimativa de elevação do total de partidos efetivos de nove para 13.

Humberto Dantas é Doutor em Ciência Política pela USP, professor visitante da FGV-SP e EACH-USP, Coordenador do Master em Liderança e Gestão Pública (MLG) e consultor associado da 4E Consultoria.

Este texto foi publicado originalmente pela 4E Consultoria

 

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