Esse conteúdo faz parte do Blog do CLP. Esse é um espaço onde as lideranças formadas pelos cursos do CLP compartilham boas práticas, aprendizados e soluções que, nesse caso, foram criadas ou otimizadas através da participação no Master em Liderança e Gestão Pública.
Para falar sobre a relação entre educação e produtividade, o líder Leandro Monteiro fala sobre a rede de ensino de Goiânia e a perda de alunos devido ao SISU. Sem um bom ensino, a sociedade não consegue contribuir produtivamente no desenvolvimento de um país, estado ou município. Leia:
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Nos últimos meses, o Ministério da Educação, o ENEM e o SISU estiveram no centro das discussões nacionais. Houve troca de ministro, falha e atraso na correção da prova do ENEM e até proposta de impeachment do atual responsável pela pasta. O ponto é que milhões de alunos, ávidos por iniciar sua caminhada acadêmica e, por vezes, profissional, ficaram à mercê de imbróglios políticos e administrativos.
Não há dúvidas que o pleno funcionamento desta estrutura é vital para dar segurança aos alunos, professores e todos os envolvidos. Um processo transparente e efetivo é o que minimamente se espera para os próximos anos. Do ponto de vista de gestão, resolver os problemas apresentados no último ENEM não é “rocket science”. Ao contrário, aparentemente qualquer consultor experiente, com conhecimentos em PDCA e gestão de processos, identificaria as falhas e, possivelmente, teria sucesso em mitigar erros elementares.
Inevitavelmente, quando o básico não funciona, a atenção se volta excessivamente para sua resolução. Os canais de televisão, as páginas na internet ou os assuntos do momento no Twitter não pautam questões de alta importância para o país. O debate qualificado sobre a importância e a implicação socioeconômica do ENEM e do SISU ficam de lado, restritos aos especialistas ou acadêmicos da área. Não assumem a audiência necessária para seu aperfeiçoamento. Uma cortina de fumaça se forma, escondendo, por exemplo, a avaliação das implicações econômicas de alocarmos alunos fora de sua cidade natal ou de formação.
A rede de ensino em Goiânia
Eu sou goiano, goianiense, do “pé rachado” como se diz por aqui. Sempre tive orgulho de Goiânia ser uma referência na aprovação de alunos em vestibulares concorridos. Em 2013, Goiás foi o 5º estado que mais ocupou vaga de medicina fora de seu domicílio. Este ano, 2020, a estudante goiana Natália Lopes orgulhosamente foi aprovada em 1º lugar em medicina na USP. O segundo lugar de medicina, agora na USP de Ribeirão Preto, ficou com o também goiano Mateus Maia. Estes resultados não são pontuais, goiás é o 8º estado que mais teve saída de alunos. Com a ampliação do SISU, é provável que cada vez mais alunos goianos tenham migrado para outras cidades do país.
A rede de ensino preparatória para vestibular, principalmente em Goiânia, é variada, com professores qualificados e ávidos por aprovar seus alunos nos vestibulares mais concorridos do Brasil. A fama de aprovação se transformou em uma crença social. Há a consciência, mesmo que exagerada, que quem estuda em Goiás, em um bom cursinho, terá os recursos necessários para ser aprovado onde quiser. Afinal, não há marketing melhor para cada unidade de ensino do que estampar ao final do ano a lista de alunos que foram bem sucedidos.
O mercado é imperdoável com as escolas que não mantém um bom ritmo de aprovação. Os alunos que antes ficavam um ano, dois, três ou mais estudando em cursinhos para ser aprovados em um curso concorrido, tem optado por migrar para outros estados e/ou escolhido a segunda ou terceira opção de curso de graduação. O SISU ampliou significativamente as chances de meus conterrâneos e, consequentemente, reduziu a lucratividade das escolas preparatórias. Recentemente conversei com um player desse mercado. Ele me disse que o mercado pré-vestibular e ensino médio em Goiânia passa por uma crise. É difícil prever quais serão as implicações deste fenômeno nos próximos anos, disse ele.
Educação também é produtividade
A educação é um tema complexo, com múltiplas variáveis a serem analisadas. Certamente, não há uma resposta rápida para qual o melhor modelo de seleção e alocação de alunos. Para além da urgente necessidade de se discutir o que é relevante em termos de política pública educacional, necessário é promover que estes temas se tornem “questões públicas”.
Já que estamos em 2020, ano de eleições municipais, seria interessante ver algum candidato ao executivo goianiense levantar o assunto da possível perda de médicos, engenheiros, empreendedores, dentistas, sociólogos, ou seja, do fundamental fator de desenvolvimento econômico de seu município: o capital humano.
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Leandro Monteiro é especialista em estratégia, gestão por resultados e aperfeiçoamento de cultura organizacional. Ele é líder pós-graduado pelo Master em Liderança e Gestão Pública – MLG. Atuou como executivo na investida do private equity GP Investimentos (fundo: GPCPIV) e foi consultor da Falconi, Value Bridge e chefe de gabinete da vice-governadora do estado da Paraíba. Atualmente, é gerente de Transparência Passiva na Controladoria Geral do Estado de Goiás e Líder de Projetos de Comunicação e Política para o segmento evangélico.