Quando a violência trava o desenvolvimento econômico

 A violência tem custos econômicos diretos e indiretos que se propagam por toda a economia. Em perspectiva global, o Global Peace Index 2025 estima que, em 2024, o impacto econômico da violência alcançou US$ 19,97 trilhões (PPC), o que abarca 11,6% do PIB mundial ou US$ 2.455 por pessoa. Esse impacto agrega custos diretos, indiretos e um efeito multiplicador (os ganhos potenciais caso despesas “afundadas”, como encarceramento, fossem desviadas para usos produtivos). 

Na América Latina e Caribe, onde as taxas de homicídio superam em múltiplos as de outras regiões, a insegurança reduz significativamente o potencial de crescimento. Um estudo recente do FMI sugere que um aumento de 30% nos homicídios está associado a queda de 0,14 p.p. no crescimento, enquanto que reduzir a criminalidade ao patamar médio mundial poderia adicionar cerca de 0,5 p.p. ao crescimento anual da região, e até 0,8 p.p. em países mais violentos.

No caso brasileiro, os dados do Ranking de Competitividade dos Estados mostram que um ambiente de Segurança Pública mais robusto está associado a melhor desempenho econômico. Tanto o nível do índice em 2015 quanto a variação do indicador entre 2015 e 2024 apresentam correlação positiva com o crescimento acumulado do Índice de Atividade Econômica dos Estados (Banco Central), como mostram os gráficos abaixo.

Em termos de mecanismo, estados que partem de patamar mais alto ou que melhoram mais rapidamente em segurança reduzem prêmios de risco, custos de seguro e perdas patrimoniais, além de aumentar a previsibilidade para investimento e consumo. Isso é consistente com a literatura regional: menos violência e maior capacidade de dissuasão/solução de crimes elevam a formação de capital e a produtividade.

Uma mensuração abrangente de um estudo de 2018 mostra que os custos econômicos da criminalidade alcançaram, no Brasil, 4,38% do PIB em 2015. A decomposição ajuda a enxergar os canais: segurança pública (1,35% do PIB), segurança privada (0,94%), seguros e perdas materiais (0,8%), custos judiciais (0,58%), perda de capacidade produtiva (0,40%), encarceramento (0,26%) e serviços médico-terapêuticos (0,05%). Em valores reais, o gasto agregado passou de R$ 113 bilhões (1996) para R$ 285 bilhões (2015), num crescimento médio de 4,5% a.a., bem acima da economia.

O custo mais difuso, e talvez mais subestimado, é o da perda de capacidade produtiva por morte violenta. Como a maior parte das vítimas é jovem, o valor presente da renda perdida é elevado: para homicídios entre 13 e 25 anos, a perda por vítima ronda R$ 550 mil (valores de 2017). Acumulando esses fluxos anuais, as perdas agregadas superaram R$ 450 bilhões entre 1996 e 2015, um “estoque” de PIB que jamais será produzido.

No plano macroeconômico, há evidência robusta de que violência inibe investimento e, por essa via, prejudica o crescimento. Um estudo com painéis internacionais mostra que proxies de violência afetam negativamente a formação de capital e o PIB. Ainda, estudos mostram que a distância entre expectativas de vida feminina e masculina é fortemente explicada por apenas homicídios intencionais.

Quando governos respondem com “mais do mesmo”, a conta cresce sem contrapartida. Diagnósticos recentes assinalam que o retorno social do aumento de gasto em segurança foi baixo, que muitas UFs de menor renda carregam proporcionalmente custos maiores, e que o espaço fiscal está restrito. Portanto, não basta expandir orçamentos. Nesse contexto, escolhas devem ser balizadas por análises de custo-benefício e por uma política de segurança baseada em evidências, com monitoramento e adaptação contínua do que funciona.

As comparações internacionais ilustram os trade-offs. El Salvador reduziu homicídios a níveis mínimos, mas sob medidas de exceção que corroeram liberdades civis e, até aqui, sem arrancada clara do crescimento, sugerindo que ganhos de segurança obtidos à margem do Estado de Direito podem neutralizar benefícios econômicos. Portanto, segurança “a qualquer custo” pode gerar riscos jurídicos e reputacionais que afastam investimento.

Por fim, a agenda de eficiência importa tanto quanto a de intensidade. Evidências acumuladas indicam que patrulhamento aleatório e respostas reativas têm baixa efetividade, ao passo que estratégias orientadas a problemas, prevenção comunitária, inteligência e avaliação rigorosa permitem “fazer mais com menos”. Em um cenário de restrição fiscal, priorizar intervenções de alto impacto e baixo custo, e reavaliar o que não entrega, é condição para reduzir o peso da violência sobre o PIB, liberar recursos para políticas sociais e, consequentemente, acelerar o crescimento sustentado.

Ranking de Competitividade dos Estados 2025

Segurança Pública

Indicadores avaliados no pilar de Segurança Pública: Atuação do Sistema de Justiça Criminal, Presos sem Condenação, Défict de Vagas, Mortes a Esclarecer, Mortalidade no Trânsito, Morbidade Hospitalar por Acidente de Trânsito, Segurança Pessoal, Segurança Patrimonial, Qualidade da Informação de Criminalidade, Violência Sexual e Feminicídio.

Solidez Fiscal

Indicadores avaliados no pilar de Solidez Fiscal: Taxa de Investimento, Regra de Ouro, Solvência Fiscal, Sucesso do Planejamento Orçamentário, Dependência Fiscal, Resultado Primário, Gasto com Pessoal, Índice de Liquidez e Poupança Corrente.

Potencial de Mercado

Indicadores avaliados no pilar de Potencial de Mercado: Tamanho de Mercado, Taxa de Crescimento, Crescimento Potencial da Força de Trabalho, Comprometimento de Renda, Qualidade de Crédito para Pessoa Física, Volume de Crédito e Inadimplência.

Diagnóstico

Com base nos dados do Ranking de Competitividade dos Estados 2025, o CLP realizou uma análise comparativa dos 27 estados brasileiros a partir de três pilares centrais: Segurança Pública, Solidez Fiscal e Potencial de Mercado. O objetivo foi compreender como esses fatores — que combinam dimensões de estabilidade institucional, responsabilidade fiscal e dinamismo econômico — se relacionam entre si e impactam o desenvolvimento regional.

O diagnóstico revela que não há uma correlação alta entre o desempenho dos estados nesses três pilares. Em outras palavras, bons resultados em uma área não garantem desempenho semelhante nas demais. Enquanto alguns estados apresentam solidez fiscal e bom potencial de mercado, mas enfrentam desafios expressivos em segurança pública, outros se destacam na redução da criminalidade, mas ainda enfrentam restrições fiscais ou baixa atratividade econômica.

Essa disparidade evidencia que a competitividade estadual é multifacetada e depende de estratégias integradas que conciliem sustentabilidade fiscal, segurança e ambiente de negócios. Políticas públicas equilibradas e baseadas em evidências tornam-se, assim, fundamentais para promover crescimento econômico sustentável e bem-estar social de forma homogênea entre as unidades da federação.

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