O CLP conversou com Rodolfo Fiori, fundador da Muove Brasil, negócio de impacto social cujo foco é aumentar a eficiência de municípios brasileiros através do uso de tecnologia e conhecimento. Rodolfo também é líder do Master em Liderança e Gestão Pública (MLG).
Rodolfo comentou as ações inovadoras da Muove e a situação fiscal dos municípios. Confira a conversa:
De onde surgiu a ideia da Muove Brasil?
A gente entendeu que as cidades, especialmente as pequenas e médias, possuem diversas dificuldades de resolver problemas do seu dia-a-dia. Além disso, os municípios não contam com o apoio de governos e por falta de recursos, não podem contratar empresas de consultorias que costumam cobrar um valor alto.
Pensando nesse grupo de municípios, a gente desenvolveu uma solução que pudesse auxiliá-los com um custo competitivo, já que a tecnologia permite isso. Mas, o início mesmo foi uma tentativa pessoal de auxiliar o meu município, São Joaquim da Barra, no interior do estado de São Paulo. Ali eu entendi que haviam diversas dificuldades e que não tinha ninguém pensando em ajudar.
Qual a situação dos municípios em geral?
De acordo com dados de 2016, 86% dos municípios brasileiros terminaram o ano com uma situação fiscal crítica, ou seja, com dificuldades de arcar com suas contas. A crise fiscal está atingindo, em uma escala muito grande, as cidades brasileiras.
Vocês se baseiam em dados e análises para auxiliar os municípios em suas tomadas de decisões. Como isso funciona?
Na prática, o município assina a Muove por um ano e, quando ele entra, a gente já disponibiliza diversas análises sobre vários tributos, receitas e despesas. A partir desses dados, o gestor já consegue identificar suas ineficiências, ou seja, o que não está fazendo bem. Com esses problemas encontrados, a gente sugere algumas ações que esse município pode adotar e um especialista acompanha essa cidade na melhoria desse processo. Fazemos um ciclo de melhoria e eficiência com essa cidade ao longo de um ano.
Os gestores têm dificuldades para entender os dados e transformá-los em informação útil?
A gente parte dessa premissa e já entrega as análises “mastigadas” e detalhadas para os municípios.
Há exemplos de resultados concretos da consultoria?
Temos o exemplo de Remígio, na Paraíba. Elaboramos um conjunto de ações para melhorar as receitas e diminuir as despesas, melhorando o monitoramento das ações que foram implantadas.
Segundo depoimento deles, nosso trabalho também ajudou disciplinando a equipe e capacitando secretários, dando segurança para a gestão e trazendo boas práticas. Em resumo, com respaldo técnico, conseguimos identificar problemas na arrecadação de IPTU e aumentar essa arrecadação em quatro vezes, o que possibilitou diversas melhorias no município.
Como os municípios podem se preparar para esse momento de escassez de recursos?
O Brasil tem um problema em seu Pacto Federativo, pois os municípios, de fato, têm mais responsabilidades do que recursos. Mas se a gente colocar esse problema, que é estrutural, de lado, vemos que as cidades têm muitas oportunidades de melhorar sua arrecadação, diminuindo a dependência de transferências de outras esferas.
O que eu acredito que dá para fazer, e a gente faz, é olhar com cuidado para a forma como as finanças e os serviços municipais são entregues. Se olharmos com análise, base de dados e boas práticas, é possível identificar várias ineficiências nos gastos públicos que podem ser melhoradas.
De que forma a tecnologia pode ajudar a melhorar a gestão pública?
A tecnologia permite várias coisas, desde a interação com o cidadão sem custos altos, até o armazenamento de dados de maneira otimizada para acessá-los e tomar melhores decisões. A tecnologia também dá mais agilidade a atividades que anteriormente levavam muito tempo. Há inúmeros ganhos de eficiência, como ganhos de entendimento de problemas e relacionamento com a população. Então a tecnologia tem sido cada vez mais utilizada, para ajudar os governos a realizar seu trabalho de maneira mais eficiente, simples e menos burocrática.
Rodolfo Fiori é formado em Engenharia pela Universidade de São Carlos. Possui mestrado em Liderança e Gestão Pública pelo Centro de Liderança Pública e Harvard Kennedy School e em Desenvolvimento Econômico Local pela London School of Economics.