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Visita à Harvard: importância de olhar para fora e aprender com as experiências do resto do mundo

Aula MLG Isabel Opice participou do módulo em Harvard / Foto: CLP

Isabel Opice é mestre em economia, trabalha na Secretaria de Governo do Estado de São Paulo, na equipe de Parcerias e Inovações, e é aluna do Master em Liderança e Gestão Pública – MLG, programa de pós-graduação oferecido pelo CLP. Na última semana, Isabel publicou no site do MGOV, um relato do módulo internacional do MLG na Escola de Governo de Harvard. Confira abaixo o texto:

Inovação e gestor público são dois termos que dificilmente aparecem na mesma frase. Enquanto o primeiro é entendido muitas vezes como tecnologia e desenvolvimento, o segundo pode remeter ao estereótipo negativo do funcionário acomodado ou, mais recentemente, aos graves escândalos de corrupção. Mas, na área pública, há muitas pessoas que querem estudar e adquirir ferramentas para contribuir com uma gestão mais eficiente, o que apesar de não ser inovação no sentido mais restrito da palavra, representa uma mudança importante em relação às práticas percebidas.

Faço um curso em liderança e gestão pública (MLG) com mais 32 gestores de (quase) todo o Brasil. São pessoas com diferentes experiências profissionais, pessoais e áreas de atuação. Na turma há desde novatos – como eu – até secretários municipais e de estado, passando também por um prefeito e um vereador. Todos com muita história para contar. Por 15 meses nos encontramos mensalmente para discutir temas variados, tanto ferramentais como de comunicação e gerenciamento de projetos, como os mais específicos ao setor público, como orçamento e ciência política. No módulo desse mês, excepcionalmente, nos reunimos na Kennedy School of Government, a escola de governo de Harvard.

A despeito do reconhecimento da marca Harvard e do “brinde” viagem internacional, antes de ir não estava tão claro para mim as vantagens de se afastar para discutir temas que muitas vezes parecem específicos ao Brasil. Esse questionamento foi rapidamente refutado. A visão do nosso país quando estamos distantes muda e acho que é porque surge um leque de comparações sobre situações que enfrentamos que parecem ser contexto-específicas, mas na verdade já foram vividas por outros governos, em outras épocas.

Confira o bate-papo online 

sobre dúvidas do MLG

As aulas com ênfase prática se davam por meio da leitura prévia de casos e debates em sala de aula. Discutimos o contrato de uma parceria público-privada (PPP) para construção de um trem de alta velocidade em Taiwan. Foi a primeira PPP do país e um dos contratos mais caros do mundo. O caso descrevia problemas enfrentados desde a fase do planejamento – as questões políticas envolvidas, a preferência por um consórcio do próprio país em detrimento de um chinês e a subestimação dos riscos, por exemplo – e as complicações durante a operação. A demanda de passageiros foi superestimada e a concessionária ficou à beira da falência, tendo que ser socorrida pelo Estado. Imagino em quantos contratos de PPP pelo mundo já não houve problemas similares aos vivenciados por Taiwan.

Ainda sobre assuntos comuns entre países, tivemos aula com um ex-prefeito de La Paz, na Bolívia. Ao assumir o cargo, ele identificou que a corrupção era sistêmica e produziu um diagnóstico mapeando todas as transações passíveis de serem corrompidas, para depois combatê-las. Achei interessante a abordagem sistêmica, a visão de que a corrupção é o sintoma de um problema maior e que apesar de ser necessário punir os corruptos, isso por si só não resolve. No caso de La Paz, por exemplo, o poder de compra dos salários dos funcionários públicos tinha reduzido muito durante a inflação. O prefeito percebeu que diminuir o número de funcionários e aumentar os salários era uma das formas de combate.

Debatemos também, com diferentes professores, o papel da liderança na gestão pública. Uma das abordagens diferenciava problemas técnicos, para os quais existem soluções prontas, de problemas adaptativos, que não têm respostas e que exigem mudanças de atitudes, valores e crenças – aquecimento global, por exemplo. As soluções para os problemas adaptativos trazem muitas vezes perdas para determinados grupos. Nesse contexto, liderar exige administrar perdas e manter pessoas engajadas com mudanças por um período longo de tempo. Mesmo no nível da abstração, a discussão me fez refletir sobre o que esperamos de um líder para o Brasil e o quão dispostos grupos específicos estão a aceitar mudanças e perdas em prol de um país melhor.

Um professor venezuelano, no discurso final, comentou sobre a situação no Brasil e na Venezuela, sobre como as questões que discutimos agora são pontuais e de curto prazo. No longo prazo, para nos desenvolvemos como sociedade, precisaremos de um estado melhor administrado, com uma liderança pública de alto nível. O fortalecimento dessa liderança é fundamental para os dois países, mas como chegar lá não é ainda claro.

No fechamento do curso, fizemos uma eleição de temas prioritários que acreditávamos ter potencial para mudar a situação do Brasil. Entre os mais votados, estavam a revisão da Constituição de 88, considerando sobretudo a proteção social e o pacto federativo, a melhora da educação política e o fim da guerra às drogas, no sentido de descriminalização. O professor questionou, elegantemente, o fato de não ter surgido nenhum tema relacionado ao desenvolvimento econômico. No caminhar dessa discussão um aluno constatou nossa preferência por ações que priorizam mudanças às regras que temos, ao invés de propostas de ações mais práticas.

Nós voltamos de viagem em uma semana caótica, mesmo considerando o turbilhão no qual já nos acostumamos a viver, com a aproximação da votação do impeachment. Acompanhar as notícias digerindo o conteúdo das aulas pode ter tornado tudo mais amargo e desesperançoso em um primeiro momento. A experiência em Harvard não me ajudou, diretamente, a pensar em respostas para a crise mas, surpreendentemente, me trouxe tranquilidade. Talvez, por entender, como disse o professor venezuelano com um sotaque simpático, que “todos os países passam por problemas”. Provavelmente vem daí a importância de olhar para fora e aprender com as experiências do resto do mundo. O nosso contexto atual é peculiar e específico, mas seria uma pretensão tola ignorar todo o valioso conhecimento que nos envolve.

Confira a matéria no site do MGOV.

Conheça a Liderança Adaptativa, o conceito que guia as ações do CLP e a base da nossa pós-graduação, o Master em Liderança e Gestão Pública.

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