A cobertura vacinal brasileira ganhou grande destaque desde 2020 por causa do contexto da pandemia de Covid-19. Cada vez mais substitui a famosa “conversa sobre o tempo” no elevador, fila do pão e fila do banco. Quem ainda não teve os vizinhos e conhecidos perguntando se já tomamos a vacina contra o coronavírus, apenas para puxar assunto?
A vacinação não é uma novidade para os brasileiros. Basta lembrarmos do famoso Zé Gotinha, personagem criado em 1986 para atrair as crianças para campanhas de vacinação. Entretanto, apesar de presente em nossas vidas, a importância das vacinas muitas vezes passa despercebida e é colocada em segundo plano. Esse cenário acaba causando diversos atrasos e problemas no controle de doenças no país.
Para melhor explorar o tema e sua importância, aqui traremos os principais pontos sobre a cobertura vacinal no Brasil. Também exploraremos o porquê a vacinação deve ser vista como uma das maiores prioridades de saúde no país.
O que é a cobertura vacinal?
A cobertura vacinal pode ser entendida como a porcentagem de pessoas completamente vacinadas dentro do total de pessoas que precisam ser vacinadas.
Em suma, o cálculo pode ser resumido por:
Mais do que apenas um cálculo, a cobertura indica quando o país consegue completar a imunização das diversas doenças. Para além, é a garantia de que doenças já erradicadas e controladas, como varíola e poliomielite, não voltem a causar vítimas no país.
Hoje em dia, o maior responsável pelas vacinações do país é o Sistema Único de Saúde (SUS). Por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), formulado em 1973, tem o objetivo de coordenar as ações e oferecer vacinas, imunobiológicos, soros e imunoglobulinas à população.
Com esse fim, o PNI define calendários de vacinação considerando a situação epidemiológica nos locais, definindo as idades alvo de cada uma das campanhas. Atualmente são distribuídos 48 imunobiológicos anualmente pelo Programa. Destes, 20 são vacinas destinadas às crianças, adolescentes, adultos, idosos e/ou gestantes.
A lista completa dos imunos, públicos-alvo e calendários podem ser acompanhados no site do Governo Federal.
Com a definição dos calendários e destinação dos imunobiológicos, os municípios passam a ter metas de vacinação. Ou seja, a cobertura vacinal que cada município deve atingir com sua população.
Por exemplo, segundo estudo de Letícia Nunes sobre Cobertura Vacinal no Brasil, em 2020, a meta de cobertura das vacinas rotavírus e BCG era de 90%. Já as vacinas poliomielite, tríplice viral (D1), pentavalente, hepatite B (em crianças até 30 dias), hepatite A, pneumocócica e meningocócica C tinham 95% da cobertura como meta.
Podcast Coisa Pública: Os altos e baixos da cobertura vacinal brasileira
Como está a situação atualmente?
Apesar de toda a importância da vacinação, a situação do país atual não é animadora: a cobertura vem caindo ano após ano e, olhando as últimas décadas, nunca esteve tão baixa. O gráfico abaixo mostra a cobertura vacinal desde 2000 até 20/11/2021, disponibilizada pelo Datasus. Mais informações sobre o cálculo podem ser verificadas nas Notas Técnicas dos dados.
Os dados mostram a tendência de queda em dois períodos principais:
- 2015 para 2016, com a cobertura vacinal chegando em 2016 a 50,44 e
- 2018 a 2021, chegando em 2021 a apenas 50,13% de cobertura.
Considerando as metas dos municípios, de 90 a 95% das 9 vacinas citadas anteriormente, tivemos o seguinte cenário no ano passado:
A situação em 2020 foi crítica. Das apresentadas, a Rotavírus foi a vacina em que mais municípios atingiram a meta. No entanto, esse número não chega nem à metade dos municípios brasileiros (46%).
Já para a vacina de Hepatite B (para crianças até 30 dias), apenas 5% dos municípios conseguiram imunizar pelo menos 95% da população, alcançando, com isso, a proteção à doença.
Por que a cobertura vacinal é tão importante para o país?
A cobertura vacinal deve ser encarada como mais do que um número. É a indicação de que as pessoas estão imunes a doenças que muitas vezes não têm cura. Entretanto, o atraso vacinal e falta de cumprimento das metas pelos municípios acarreta numa situação oposta à ideal, com o ressurgimento de doenças que já haviam sido eliminadas no país.
O sarampo, por exemplo, que havia sido erradicado em 2016, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) voltou a apresentar surtos no país. Reportagem do G1 mostrou que a cobertura vacinal do sarampo havia caído de 92% para 76%, ou seja, insuficiente para garantir a imunização da população. Com isso, o vírus voltou, confirmando, até outubro de 2019, 10.429 casos.
Para não voltarmos a ver essas doenças vitimando milhares de brasileiros, precisamos voltar a colocar a vacinação de todas as doenças no nosso cotidiano.
Na fila do pão, no elevador, precisamos perguntar sobre a vacina contra a Covid-19, fundamental para acabar com a pandemia que estamos vivendo. Mas também precisamos perguntar sobre todas as demais, e não esquecer da importância contínua delas para não voltarmos a viver surtos de doenças que já possuem prevenção eficaz.