Existia uma época, em que as escolas separavam as crianças normais das crianças deficientes. As atividades que as crianças recebiam eram por meio dessa classificação. Assim, as crianças deficientes ficavam excluídas das tentativas de desenvolvimento de suas potencialidades. Com isso, chegou-se à conclusão de que a deficiência das crianças não é produto de causas biológicas, mas também de causas sociais.
As causas sociais das deficiências das crianças podem ter como origem problemas estruturais, como por exemplo falta de saneamento básico, a ocorrência de violência doméstica ou a pobreza cultural.
Quando as crianças vão para a escola, os objetivos do Projeto Político Pedagógico da instituição têm que dialogar com a bagagem cultural do estudante.
Um problema recorrente nas escolas públicas é quando temos gestores escolares com aquela perspectiva de impor o modelo aceito tradicionalmente de educação.
Escolas tradicionais vs escolas não tradicionais
No Brasil, a partir dos anos 2000, começou a se discutir as diferenças de valores de famílias tradicionais com os valores das famílias não tradicionais.
As escolas tradicionais proporcionam uma única forma de aprendizado. Todos os alunos devem aprender ao mesmo tempo, um conjunto selecionado de disciplinas. Acontece que não existe igualdade na personalidade humana. Cada ser humano é único, e se desenvolve no seu tempo.
Os estímulos dados à criança, facilita o seu desenvolvimento. Vygotsky defendia que é necessário que a pessoa com deficiência reconheça suas condições e descubra um caminho que possa levá-la a aprender mais. A criança precisa se conscientizar e assim, se organizar para lidar com os seus obstáculos sociais.
Cada obstáculo vencido, vai lhe fazer querer vencer mais obstáculos sociais, por isso é importante que a criança deficiente tenha interação social com outras crianças de sua idade.
Ocorre que, quando uma escola pública não oferece valores que dialogam com os valores familiares do estudante, isso terá como resultado, um comportamento apático em relação às diretrizes do projeto político pedagógico pelo aluno, o que contribuirá com a evasão escolar.
A relação entre a valorização profissional e a educação inclusiva
Muitas classes profissionais defendem o direito da sua valorização profissional. Por meio das últimas reivindicações dos Agentes Escolares do setor público, no qual decidiram parar as atividades laborais para fazer a seguinte indagação a sociedade: “como uma escola pode ter sucesso, menosprezando o administrativo escolar”?
Um ponto interessante é analisar o entendimento que esses trabalhadores possuem em relação ao conceito de valorização. O que é valorização? Como um profissional pode ser e se sentir valorizado?
Para isso, basta lembrar que “valorização” é um termo subjetivo, de modo que cada profissional, servidor público e cidadão terá a sua noção de valorização.
A valorização é interdependente com os objetivos de vida de cada cidadão. Uma pessoa que valoriza os princípios tradicionais, terá condutas tradicionais; já a pessoa que valoriza princípios não tradicionais, terá condutas opostas às tradicionais.
E quais são os valores que fazem parte de uma conduta tradicional?
O sociólogo Max Weber classificou as condutas sociais (ações sociais) em quatro categorias, dentre elas:
A ação social tradicional, que tem como fonte motivadora os costumes ou hábitos arraigados (enraizados).
Portanto, os valores que fazem parte de uma conduta/ação social tradicional são os costumes sociais ou hábitos enraizados na sociedade. Nesse contexto, é importante deixar claro que a valorização vai depender dos princípios que regem a vida pessoal de cada profissional, servidor público e cidadão. Não existe um único conceito de valorização.
Como diz o cantor “Xand Avião” na música “Se valorize”:
“Se respeite,
se valorize e,
se oriente”.
Não é o Estado e nenhuma instituição pública ou privada que vai lhe valorizar. A valorização é pessoal, cabe a cada um fazer valer os princípios que regem a sua vida, em uma visão compartilhada com os princípios sociais.
A partir do momento em que os profissionais da educação saberem reconhecer as suas potencialidades, é que podemos sonhar em vê-los dando soluções para os problemas vigentes da inclusão dos alunos que, dentre vários motivos, decidem abandonar os estudos.
A valorização das políticas para educação inclusiva na sociedade pós-pandemia
Necessitamos de mais políticas sociais inclusivas? As escolas públicas atendem as demandas sociais da comunidade ao seu redor? Para responder essa pergunta, é preciso analisar os problemas vigentes da educação pública.
Diante desse retorno presencial pós-pandemia, cabe às escolas públicas cuidar das vulnerabilidades individuais dos alunos. Quero enfatizar que não basta olhar para as vulnerabilidades do adolescente ou da criança, é necessário olhar as vulnerabilidades que foram ampliadas pela pandemia.
Quando os alunos apresentam constantemente um cenário de apatia em relação à escola, cabe pensar em políticas públicas para tentar mudar esse cenário escolar.
E o que esperar da escola?
Se a escola é desinteressante, o aluno vai embora. Em razão disso, temos um alto índice de evasão escolar, principalmente no noturno. Quando há um conflito, não existe vencedor e perdedor. Essa ideia de vencedor e perdedor em um conflito é um mito que deve ser combatido nas escolas.
Art. 12, inciso IX e X da Lei de Diretrizes e Bases – LDB, trata da Prevenção à intimidação sistemática (bullying) dentro das escolas. Repare que a prevenção a intimação sistemática está dentro dos objetivos do Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar.
Quando há intimação ao estudante e funcionários dentro do ambiente escolar, fica difícil a escola atingir o seu resultado principal, que é: não deixar ninguém para traz.
Diante do exposto, cabe a comunidade escolar, os pais/responsáveis pelos alunos, os profissionais e a sociedade civil pensar sobre o que esperar da escola pública no pós-pandemia e como pensar a educação inclusiva.
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