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A Importância da utilização de dados para pautar políticas públicas

O CLP realizou uma entrevista com Marcos Carrer, idealizador do Portal DATAPEDIA*, plataforma gratuita que disponibiliza diversos dados geoeconômicos de sites públicos e governamentais sobre 5.570 municípios brasileiros. Marcos faz parte da rede CLP de líderes formados no Master em Liderança e Gestão Pública. As perguntas e respostas podem ser conferidas abaixo:

 

1 – De onde surgiu a ideia de reunir dados em um portal?

MC – A DATAPEDIA surgiu da minha experiência profissional, pois eu trabalhava com consultorias e planejamento estratégico para estados e municípios. Eu passava 90% do tempo do meu trabalho levantando e coletando dados, tendo de realizar um enorme esforço para encontrar essas informações, pois estavam escondidas e separadas em diversos portais. A idealização do portal surge da demanda por políticas públicas baseadas em evidências estatísticas e também, como uma oportunidade para gerar impacto em todo país, visto que muitas cidades não teriam condições de organizar suas próprias bases de dados e possuir um grupo técnico de análise. Dessa forma, a DATAPEDIA busca unificar informações de 5.570 municípios, traduzi-las e disseminá-las.

 

2 – O que a DATAPEDIA oferece e qual é o seu objetivo?

MC – O objetivo da DATAPEDIA é disseminar as informações públicas dos municípios brasileiros, e apoiar a tomada de decisões em políticas públicas com base em dados e fontes oficiais. Além do portal aberto, a DATAPEDIA está desenvolvendo uma face da plataforma para estudo dos problemas locais, análises e atendimento ao cliente.


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3 – Os gestores públicos estão acessando a plataforma?

MC – Há um grande acesso por pesquisadoras e mídias. Quanto aos gestores públicos, recebemos alguns e-mail de secretários de planejamento, servidores públicos e assessores que estão utilizando o portal.

4 – Qual é a importância de uma base de dados para um diagnóstico municipal?

MC – O planejamento através de dados é pautado em cima de evidências, ou seja, a gente deixa de ter diagnósticos muito amplos, que acabam aceitando qualquer ação. Por exemplo, é fácil um político dizer que irá melhorar a educação porque é algo super generalista. Quando se trabalha com evidências, as políticas públicas passam a  exigir níveis mais específicos, assim, melhorar a educação passa a ter um significado mais específico, como aumentar o número de vagas em pré escola, qualificar os professores da rede pública municipal, implantar o ensino integral, reduzir o custo operacional do transporte escolar, desenvolver políticas para a educação de jovens e adultos. Com base em dados, os problemas passam a ser específicos, mensuráveis e focalizados.

 

5 – Sabemos que um diagnóstico pautado em dados promove boas políticas públicas. Por que os municípios não se utilizam disso? Seria por falta de conhecimento?

MC – Acredito que tenha relação com o contexto histórico do país. No Brasil, há um grande problema de desigualdade, normalmente as camadas superiores que ocupam cargos públicos conhecem pouco a realidade das camadas mais baixas. Além disso, o dia a dia político é voltado para manutenção do poder com debates ideológicos que promovem o patrimonialismo. Dessa forma, a sociedade acaba ficando de lado e a consequência desses comportamentos são visíveis na colocação do Brasil no Ranking de Competitividade do Fórum Econômico Mundial, o país ocupa os piores índices de desperdício de recursos públicos.

Outro ponto, a gente só consegue fazer uma avaliação de resultados quando olhamos pra trás. Infelizmente, os dados e indicadores são complexos e ficam defasados. Mas, o problema é adaptativo, pois o técnico (dados e informações) já temos, o principal desafio é tornar esses dados conhecidos e que sejam utilizados e analisados. O Ricardo Paes de Barros que diz isso, o Brasil tem muitos dados, só falta saber o que fazer com eles.

 

6 – Como promover uma cultura no qual gestores públicos façam uso de dados para pautar a tomada de decisões?

MC – Antes não havia dados unificados, a DATAPEDIA criou esse caminho para que o acesso às informações seja facilitado, entendido de forma sistêmica e disseminado. Porém, não basta apenas fornecer informações, é necessário que haja um conhecimento para interpretá-los. Os gestores podem adquirir isso por meio de cursos e capacitações, porque esse conhecimento tem que virar capacidade de análise e diagnóstico. Há um longo caminho para percorrermos.

Early Adopters, é um termo em inglês que significa  “o cara que experimenta antes de todo mundo”, no setor público há diversos gestores inovadores, penso que o caminho para promover uma cultura de uso de dados é  engajar com essas pessoas, que estão dispostas a construir soluções de forma conjunta, assim, gradativamente, o campo de públicas vai absorvendo essa novidade.

 

7 – Como os gestores, a partir dos dados exposto pelo DATAPEDIA, podem formar análises?

MC – Nem todos possuem o conhecimento de traduzir informações com base em dados e transformá-las em análise. O ideal é pensar no processo de como as pessoas se tornam capazes de realizar uma análise e como desenvolver essa capacidade nas pessoas. Analisar dados é uma das habilidades que o governo precisa.

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8 – Como a população pode se utilizar desses dados?

MC – Eu recebo e-mails de pessoas que utilizam o portal para realizar trabalhos, que fazem análises de determinados municípios a partir da DATAPEDIA. As pessoas utilizam para consulta, por curiosidade, se impressionam com indicadores como ‘nascimento de mães entre 10 a 14 anos’. A ideia de criação do portal tem a ver com a vontade de que a sociedade se aproprie dos dados públicos. Há também a questão da transparência, a maioria dos municípios brasileiros são de médio e pequeno porte, com a DATAPEDIA, existe a possibilidade de municípios pequenos terem o mesmo acesso à informações disponíveis em grandes cidades como São Paulo, gerando maior autonomia ao cidadão.

Marcos Carrer da Silveira – Participante da turma 1 do Master e Liderança em Gestão (MLG). Trabalha em projetos para o governo há 9 anos, nas áreas de gestão de projetos (CDHU-SP), plano de desenvolvimento estadual (Alagoas 2022), plano de desenvolvimento municipal (Catanduva 2020) e inovação em serviços públicos (SPLeituras). Foi consultor associado no Instituto Tellus e cofundador do Portal Tellus Inspira, ganhador do prêmio máximo do Youth Innovation Fund 2012 do Banco Mundial. Criador da DATAPEDIA, plataforma digital que possibilita a visualização de informações e dados sobre os 5.570 municípios brasileiros.

*O DATAPEDIA é um portal aberto e gratuito, que disponibiliza, a seus usuários informações sobre demografia, saúde, IDH, vulnerabilidade, educação, economia, violência e finanças públicas de municípios e estados do Brasil. O portal coleta as informações de instituições e órgãos públicos brasileiros. Além do portal aberto, há uma versão com funcionalidades mais avançadas para a análise de dados que está sendo desenvolvida.

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