Já falamos aqui sobre a importância em saber diferenciar os desafios técnicos dos desafios adaptativos e como isso pode mudar e melhorar a gestão de um projeto (link). Para um gestor, além de saber realizar um bom diagnóstico e ouvir sua equipe, é importante ter um time engajado, capaz de comprar os desafios e enfrentar os problemas propostos com o máximo de energia e vontade possível.
A visão, senso comum, que se tem do setor público não é das melhores. Funcionários públicos são vistos como pouco eficientes, burocráticos e com pouca – ou nenhuma – vontade de ajudar. É comum, também, acharem que quem busca o funcionalismo público está no fim da carreira, buscando uma aposentadoria melhor, estabilidade no emprego e sossego.
Mas há no funcionalismo público pessoas engajadas e comprometidas com a sociedade que desempenham suas funções com excelência a fim de contribuir positivamente e melhorar o país onde vivemos. Caso você trabalhe com gestão pública, atente-se aos que estão ao seu lado. Sua equipe de trabalho é motivada e engajada nos desafios do dia-a-dia? Ou será que eles estão se deixando levar pelo marasmo daqueles que nada fazem?
Um dos principais problemas enfrentados pelos gestores é a falta de clareza em relação aos objetivos. Se o gestor não consegue enxergar claramente as metas, o plano e o caminho a seguir há o risco da equipe estagnar e travar. O especialista em RH na Gestão Pública, Tadeu Barreto, explica que “a definição clara dos propósitos específicos das unidades e empresas públicas eleva o potencial de engajamento dos servidores”.
Uma vez escolhidos os desafios a serem enfrentados, e a forma como eles serão vencidos, é hora de envolver a equipe no planejamento e na definição de metas e objetivos. A não aproximação entre liderança e liderados acaba muitas vezes matando um projeto antes dele nascer. “Um bom líder age sendo o exemplo das atitudes e comportamentos esperados, está sempre aberto para propostas e ideias novas, além estimular a autonomia para a busca de soluções”, comenta Barreto. Um líder incapaz de ouvir seus liderados irá deixar escapar diversos detalhes importantes sobre os problemas diagnosticados. No setor público, a dureza da hierarquia e o hábito de não questionar ordens só piora esse cenário. “É fundamental energia positiva no dia a dia, transparência e verdade na comunicação com a equipe”, explica Barreto.
As mudanças de gestões
Diferentemente do setor privado onde o mesmo gerente pode permanecer por anos no cargo, no setor público de tempos em tempos mudam os líderes e essa mudança muitas vezes é seguida de uma transformação nas prioridades do governo. Como se empenhar no trabalho se daqui quatro anos as diretrizes podem mudar e levar todo o trabalho pelo ralo? Esse pensamento pode gerar um efeito bola de neve onde o medo paralisa o gestor e a paralisia o impede de impactar o setor público.
Para evitar que isso aconteça é necessário focar na institucionalização das ações. Uma política pública eficiente tende a criar raízes tão profundas que a tornam impossível de ser mudada. Isso acontece quando o projeto tem um arcabouço político, econômico e social forte. Você consegue imaginar um Brasil sem Bolsa Família ou sem Plano Real? São projetos diferentes, de governantes diferentes que obtiveram total sucesso em se institucionalizar e gerar raízes profundas na sociedade, na economia e na política brasileira. Tornaram-se o verdadeiro legado de seus criadores.
Quando um time realmente engajado se predispõe a resolver os problemas de um determinado setor, e faz isso com eficiência, a medida adotada, a solução do problema, irá repercutir por anos e isso independe de quem está no poder. “Dado o contexto tão complexo, incerto e ambíguo do setor público, apenas cumprir o manual não produz os resultados que nossa sociedade merece e exige”, destaca Barreto. Devemos sempre nos lembrar que existem trajetórias e futuros que são e serão impactados pelas ambições e ações de cada pessoa envolvida e quando se trata de algo grande como o Estado, os impactos são muito maiores.