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Renda que vem do lixo: a coleta seletiva e solidária em Três Rios (RJ)

O CLP conta com uma rede de mais de 6 mil líderes que possuem histórias e resultados concretos de melhorias na administração pública.  Um desses casos é o projeto “Renda que Vem do Lixo’’, que implementa a coleta seletiva no município de Três Rios (RJ) e consegue forte adesão da população, formalizando o trabalho e aumentando a renda dos catadores.

O projeto é idealizado por Alice Hagge, atual secretária do Meio Ambiente e Agricultura do município. Alice passou pelo CLP na formação de desenvolvimento de municípios cariocas e também é líder MLG pelo Master em Liderança e Gestão Pública, do CLP.

Confira mais detalhes sobre o projeto:

 

Qual era o problema da Secretaria do Meio Ambiente?

 

Não havia coleta seletiva instituída no Município de Três Rios, localizado no interior do Rio de Janeiro. A cidade de 80 mil habitantes gera cerca de 60 mil toneladas/dia de resíduos sólidos domiciliares. 

Todo esse lixo era destinado à aterros, sendo que mais de 40% dele era possível de ser reciclado.  Era preciso mudar a destinação desse lixo e reintroduzi-lo no ciclo produtivo, além de formalizar o trabalho de catadores, que têm essa como principal fonte de renda.

Uma iniciativa de coleta seletiva já havia sido implantada anteriormente, mas não foi institucionalizada, e assim, acabou se extinguindo em 2009. A população, que aprovava esse projeto, vinha solicitando ao poder público que implementasse a coleta seletiva na cidade.

 

O que foi feito para solucionar a falta de coleta seletiva?

 

Foi criado e implementado o projeto Coleta Seletiva Solidária de Três Rios. A iniciativa tem como um dos focos principais a inclusão dos catadores que trabalhavam no lixão, possibilitando que eles continuem trabalhando com a reciclagem, só que de forma mais digna e com maior perspectiva e renda. Foi criada uma cooperativa para a qual é oferecida capacitação continuada sobre:

• educação e legislação ambiental,

• cooperativismo,

• cidadania,

• segurança no trabalho, e

• empreendedorismo.  

Este projeto foi pensado e elaborado durante um programa do CLP para auxiliar municípios cariocas a pensar em soluções para os desafios das cidades. 

 

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Quais foram os resultados do projeto?

 

O projeto ainda está em implementação. Mas alguns resultados já atingidos são:

• Um caminhão de coleta seletiva passa de porta-a-porta em alguns bairros;

• A cooperativa tem oito cooperados, garantindo renda de R$1.200 para cada um;

• Visando o empoderamento dos cooperados através do estímulo ao estudo e à leitura, uma parceria possibilitou a criação de uma biblioteca com 1.200 exemplares;

• Está sendo feita uma interlocução com municípios vizinhos para o fortalecimento regional e a possível criação de uma rede de cooperativas de coleta seletiva para comercializar o material em maior escala, com melhor preço por tonelada;

• I Fórum de Cooperativas de Catadores do Centro-Sul Fluminense, em parceria com o Município de Areal, quer criar um canal de comunicação e apoio direto entre as cooperativas;

Palestras sobre o projeto levam informações que possibilitam a replicação em municípios que ainda não possuem coleta seletiva.

 

Porque o caso de Três Rios é uma boa prática na gestão pública?

 

O projeto conta com o apoio, além da sociedade civil, do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente de Três Rios, do Ministério Público, da FIRJAN, do SEBRAE, do INEA e de outras instituições atentas às questões ambientais, sociais e econômicas envolvidas na coleta seletiva. A realidade encontrada em Três Rios é muito similar ao que ocorre em muitos municípios, o que torna o projeto replicável. São utilizadas metodologias simples e parcerias, criando redes e ampliando a comunicação com a população, sem exigir muitos recursos.

 

Qual o grande desafio que a líder do projeto enfrentou?

 

“O maior desafio foi conquistar a confiança dos catadores que trabalhavam no lixão, que se sentem esquecidos pelas políticas públicas e já receberam muitas promessas não cumpridas, além de trabalharem em um ambiente insalubre para o corpo e mente. Foi preciso muito diálogo para entender a realidade dessas pessoas. Também foi necessário desenvolver a empatia na equipe que atua diretamente com os catadores e um trabalho contínuo de educação, capacitação, empoderamento e inserção social com os membros da cooperativa.”

 

 

Qual é o legado desse projeto?

 

O principal legado do projeto é a mudança de cultura da população em relação ao lixo e a gestão de resíduos no município, com um viés mais ambiental, social e econômico. A intenção é realizar a adesão da Prefeitura na A3P (Agenda Ambiental na Administração Pública). Além disso, há várias ações planejadas para dar continuidade à política pública:

• A partir de janeiro de 2019, deve começar outro projeto que implanta a coleta seletiva também nas escolas e repartições públicas. As unidades de ensino não só realizarão a coleta seletiva dos resíduos gerados nas unidades, como também servirão de ponto de entrega voluntária para as comunidades do entorno;

• Uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação deve possibilitar vagas na Educação de Jovens e Adultos e cursos específicos de Português e Matemática no próprio galpão aos cooperados interessados

• A partir de 2019, todos os eventos realizados pela Prefeitura, contarão com a coleta seletiva, sendo os materiais coletados encaminhados para a cooperativa de catadores;

• Em 2019, será feita uma campanha de arrecadação de plástico e cada garrafa pet entregue valerá um ticket para um sorteio de bicicletas feitas de plástico reciclado, incentivando a população e mostrando o resultado do beneficiamento do material coletado.

 

Alice Hage é Bacharel em Ciências Biológicas e Mestre em Entomologia pela Universidade Federal de Viçosa. Bióloga concursada do Município de Três Rios desde 2013. Em 2017, foi Diretora de Meio Ambiente do Município de Sapucaia. No mesmo ano, retornou a  Três Rios como Secretária Municipal de Meio Ambiente e Agricultura, cargo que atua até o momento.  

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