O novo coronavírus (Covid-19) está intrinsecamente ligado à crise no meio ambiente. Neste texto, explico sucintamente como o vírus começou, em meio ao mercado de animais selvagens, e como as intervenções humanas na natureza podem causar problemas globais. Confira:
A crise no meio ambiente: coronavírus
A aviação comercial global, em 2019, transportou 4.5 bilhões de passageiros, com eficiência e rapidez. Este mundo interconectado tem inúmeras vantagens que aceleram o desenvolvimento global e multiplicam oportunidades, mas também aproxima e globaliza problemas de uma forma que não estamos preparados para suportar.
Com o novo coronavírus (Covid-19) enfrentamos uma grave pandemia, que segue se disseminando em velocidade sem precedentes. Quase todos os países já contam com casos confirmados e as diversas medidas adotadas visam evitar a expansão do contágio, para que não se ampliem os números de pessoas infectadas e os sistemas de saúde não entrem em colapso.
Muito se fala sobre a pandemia, porém, é pouco lembrado como ela pode ser relacionada à questão ambiental e à crise no meio ambiente. No caso do Covid-19, é possível que ele tenha adquirido a capacidade de ter os humanos como hospedeiros a partir de outras espécies, como o pangolim e o morcego. Isto pode ter começado a partir do hábito de consumir, para alimentação, animais selvagens e pela destruição dos habitats naturais.
O mercado de animais selvagens
Em mercados de animais vivos, espécies que raramente se aproximariam em uma natureza não afetada pelos humanos, agora ficam amontoadas, em adensamentos mistos, possibilitando contaminações exponenciais que podem favorecer o surgimento desses vírus letais para nós.
Isto não é novidade e já tinha acontecido, em 2002, com a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Severe Acute Respiratory Syndrome, SARS), originada do consumo de civetas africanas, provavelmente infectadas por morcegos. Outro exemplo é a doença por vírus Ebola, que também pode ser relacionada ao contato ou consumo de animais.
Adicionalmente, a crescente devastação de habitats também aumenta a nossa exposição às mais de 50 arboviroses conhecidas e, potencialmente, outras ainda desconhecidas. São doenças transmitidas por mosquitos, tais como encefalites virais, dengue, febre amarela, zica, chikungunya, mayaro, etc.
Onde a crise no meio ambiente começa: O aquecimento global
As mudanças climáticas também são uma grave ameaça porque podem favorecer o surgimento de vírus ainda desconhecidos e a expansão das arboviroses.
Com o aquecimento, mosquitos vetores podem se adaptar e colonizar áreas onde, anteriormente, o clima era hostil à sua sobrevivência. Com estações mais quentes, o Aedes Aegypti já chegou ao hemisfério norte. Segundo o Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), o Aedes Aegypti já proliferou a ponto de ter infectado com o vírus da zika mais de 42 mil pessoas nos EUA.
O degelo do permafrost e das grandes geleiras do Himalaia, por exemplo, também pode reanimar vírus congelados. Matéria do G1, de 24/1/2020, alertava que “cientistas chineses e americanos descobriram 28 grupos de vírus desconhecidos, que estavam congelados há 15 mil anos. A pesquisa recolheu amostras do gelo glacial mais antigo da Terra, que fica em Guliya, no noroeste do Tibete, na China”.
Este é um tema vasto, detalhadamente analisado por Sonia Shah, jornalista e autora de “Pandemic: Tracking Contagions, from Cholera to Ebola and Beyond”, em seu artigo ‘Contra a pandemia, ecologia’, na edição 152 do Le Monde Diplomatique, cuja leitura e reflexão recomendo.
Enfim, se não entendermos a clara relação entre pandemias e a crise no meio ambiente, poderemos enfrentar problemas ainda mais sérios no futuro, basta imaginarmos a mesma taxa de contaminação atual com um vírus com letalidade ainda maior. O Covid-19 já nos provou o quanto isto pode ser desastroso.
E qual a lição que fica para o dia de amanhã?
Os gestores públicos precisam ter visão multidisciplinar para lidar com este mundo interconectado e o meio-ambiente é disciplina fundamental na equação.
A situação atual é gravíssima. Deve ser bem compreendida pela população, por todos os seus membros, de todas as idades e de todos os níveis sociais e econômicos. Gerando a consciência que leve a que cada pessoa ofereça sua parcela de cooperação. Fique em casa; proteja a sua imunidade; cuide dos idosos; e resguarde seu lar. E, quando esta pandemia acabar, vamos cuidar melhor do meio ambiente.
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Bernardo Egas, é formado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e líder pós-graduado pelo Master em Liderança e Gestão Pública – MLG. Atualmente é Secretário de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro e Presidente do Fórum de Secretários de Meio Ambiente das Capitais Brasileiras – CB27.
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